terça-feira, 1 de dezembro de 2009

“A felicidade só é verdadeira quando compartilhada”


"O texto a seguir é uma reflexão de ficção. Qualquer semelhança com a reflexão de pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Especialmente para vocês, ex’s... babacas"

A vida é um boy meets girl. A não ser é claro que você tenha criado um novo caminho na sua vida e o seu jogo seja boy meets boy, ou girl meets girl, ou boy meets chicken, enfim, vocês entenderam o sentido da coisa. Contemporaneidade e sensibilidade parecem palavras ultra diferentes quando procuramos seu significado no mundo atual. Mas quando paramos pra analisar as nossas vidas, percebemos que somos isso, uma sensibilidade contemporânea num mundo de garotos que conhecem garotas.

Boy meets girl é o típico filme comédia romântica. Nele, um garoto conhece uma garota, eles tem um caso, onde ambos terão grandes aprendizados e dramas, situações cômicas, e no fim eles, A) ficarão juntos para sempre, ou B) cada um vai seguir o seu caminho. Então por que a vida é um boy meets girl? Porque a vida é assim, você vai encontrar dezenas de pessoas no seu caminho, todas terão algo para lhe acrescentar, mas de fato, algumas das que mais nos marcam, são aquelas que tiram algo de nós e levam com elas.

E no universo particular de cada um, existe um alguém especial, que no fundo não é tão especial assim, que no fundo é a pessoa que a gente nunca quis ter conhecido, que no fundo marca o que alguns amigos meus chamam de Ritual de Passagem. De fato, o ritual de passagem da sensibilidade de cada um (aqui há muitos outros sentimentos, claro, mas vamos tratar no geral da sensibilidade), acontece quando a partir de um evento em comum ao de outro alguém, nós passamos a não ver mais o mundo como era antes desse outrem. Num ritual de passagem, o mundo segue adiante, você não.

E sobre isso o que trata aquele que eu já escolhi como o melhor filme de 2009, a comédia romântica, o típico boy meets girl, a obra que me pegou de surpresa mais do que qualquer outra, 500 Days of Summer (500 Dias com Ela, tradução brasileira de um título intraduzível). No filme, Tom é um criador de cartões comemorativos, que busca algo acima de tudo, o amor de sua vida. Um dia, no escritório ele conhece a bela Summer. E o filme já começa a se tornar genial por mostrar primeiramente que o raro tipo de homem que tem sentimentos nobres por uma mulher, é acima de tudo, não um tímido, mas um covarde. Os dois começam uma incrível relação, mas há um porém: ELA não acredita no amor.

E é assim, que por 500 dias, somos apresentados a um relacionamento que nasce fadado a dor e ao desespero por amarmos e não sermos amados de volta. De forma não linear (que chega até a ser irritante em alguns momentos), mergulhamos em acontecimentos bons, ruins e simplesmente comuns. Hora somos Tom, hora somos Summer. Hora estamos sendo um deles dizendo a monstruosa frase “ainda podemos ser amigos”, escutando The Smiths no elevador, pulando de alegria após uma noite de sexo e fazendo um completo musical no caminho pro trabalho, tentando discutir a relação, não discutindo e rindo ao som de Carla Bruni, tentando discutir a relação, não discutindo e brigando no apartamento, quando conversamos sozinhos, tentando nos enganar na frente do espelho, como ao experimentar a explosão do primeiro beijo daquele por quem já estamos apaixonados e claro, por saber qual vai ser o último.

Talvez um dos melhores pontos de 500 Days of Summer seja quando somos apresentados a divisão da tela em Realidade e Expectativa. Nenhum momento é tão perfeito ao mostrar como somos fracos de mente quando estamos apaixonados e tudo que acontece ao nosso redor nós desejamos que estivesse sendo completamente diferente. Ainda assim, se 500 Days parece um filme banal, é em seu final, num diálogo absurdamente sincero e doloroso entre Tom e Summer que entendemos uma visão absolutamente honesta, ainda que um tanto tragicômica, do amor, além de alguma forma renovar esse sentimento por acreditarmos: “uau, agora tudo faz sentido”.

Sim, porque acima de tudo, após um Ritual de Passagem, nós devemos saber qual é o momento de voltar a caminhar com o mundo. Mesmo tendo aqueles que acham o amor uma utopia. Mas o amor não é uma utopia, viver na natureza selvagem que é.

Se 500 Days of Summer é capaz de nos mostrar perfeitamente o difícil rumo que a vida às vezes nos dá, Na Natureza Selvagem é o filme que mostra a utopia do rumo que queremos dar a nossa vida. Mais que um incrível filme, Na Natureza Selvagem toca a sua alma com a ponta de uma faca e a faz sangrar. Se você não sentir isso, então é porque você matou há muito tempo o que há de mais simples dentro de você.

É um filme revelador, com uma força pós-utópica que nos faz malditamente compartilhar uma empatia com o personagem principal. Afinal, você nunca pensou em abandonar tudo e viver uma vida sobre a liberdade total, a partir do zero? Em Na Natureza Selvagem os elementos da liberdade, sociedade, natureza, verdade, sentimento, moral, solidão, e este mix de tudo estão o tempo todo sendo jogados na nossa cara de uma forma sublime e dolorosa. É uma reflexão no abismo de uma utopia pós-hippie, que nem a galera de Woodstock acredita mais.

Temos a história de Chris, que depois de sua formatura aos 22 anos, doa sua poupança, abandona sua família, seu carro, destrói sua identidade, seus cartões de crédito, queima o que lhe sobra de dinheiro e parte em busca daquilo que considera sua liberdade aquém de qualquer elemento da sociedade. Sem dinheiro, viaja por dois anos pelos lugares mais belos e inóspitos dos EUA e México, trabalha daqui e dali, conhece pessoas que se afeiçoam a ele, e parte para um plano audacioso: ir para o Alaska onde pretende viver em meio à natureza por sua conta e risco.

Não estou falando de um atletazinho babaca que aparece no Fantástico e no Domingo Espetacular, desses que se preparam fisicamente por anos, ficam cercados de água e energéticos, que só escala uma montanha guiado por GPS e está sempre com um óculos escuro da Nike. Estou falando de... ah, não é fácil dizer de quem estou falando, nunca conheci o Chris de verdade (o filme é baseado numa história real), e Deus sabe que depois desse filme eu gostaria de ter conhecido.

E não nos resumimos a diálogos, nos resumimos a imagens, a expressões. Temos momentos, como a invasão da enchente no carro, os pulos junto aos cavalos selvagens ao pôr do sol (cena esteticamente perfeita), os dias de verão no Ônibus Mágico, a decida pelas corredeiras, o momento em que ele enterra os livros de seus pensadores favoritos e o encontro com o urso, que desfocado e sem som é de longe o momento que mais representa que Chris agora faz parte da natureza, mesmo a vista de um final não trágico como muitos podem imaginar, mas libertador.

Mas definitivamente o momento mais maldito na cabeça de quem assiste esse filme é quando Chris conhece o velho Ron, um homem muito solitário e recluso que vê em Chris não a pessoa que ele gostaria de ter sido, mas o filho que ele queria ter amado. Num diálogo assombroso de tão emocionante, Ron fala com lágrimas nos olhos: “Sabe, eu tenho uma idéia. Minha mãe era filha única, meu pai também, e eu fui o único filho deles, por isso, quando eu me for, serei o fim da minha linhagem. A minha família acabará. Que tal... deixar te adotar?”, a ponto que Chris responde tentando segurar a emoção: “Ron, podemos falar sobre isso quando eu regressar do Alasca?”. Ambos concordam, mas é difícil segurar a dor, porque ambos sabem, e nós sabemos também naquele momento, que eles nunca mais irão se ver.

Na Natureza Selvagem é um filme difícil de ser assistido. Principalmente num mundo que nos ensina que o correto é estudar, trabalhar em empregos que às vezes odiamos, ter um mês de férias para gastar o que nem temos, trabalhar de novo, pagar contas e seguir o sistema. É difícil acompanhar a utopia de Chris, mas é fácil compartilhar sua lição, uma lição única de alguém que realmente quis a liberdade, conquistou, e no fim descobriu que o melhor dessa liberdade, é que ela seja compartilhada.

10 comentários:

Júnior Santos disse...

Antes mesmo de terminar a leitura da sua postagem, já estava acessando um site de downloads e colocando os dois filmes para baixar.
Há tempos escuto comentários sobre o segundo, meu amigo é fanático,tem até a trilha sonora. Porém, o primeiro só tinha ouvido coisas clichês que não despertaram a minha curiosidade. Porém, depois de ler os seus escritos, mudei totalmente de opinião. A boa crítica, aliada a identificação da história com a minha singela vida, me fez ficar morrendo de vontade de assistir.
Agora, é só esperar o download terminar!

xD

Annie Manuela disse...

Nossa já quero assistir tb, tomara que eu encontre na locadora.
Acho que em fases da minha vida fui um pouco de cada personagem do filme 500 Days of Summer. Mas um dia a gente aprende ou acaba acontecendo de amar e ser amada...

Bjks.

Thiago da Hora disse...

O grande problema (para mim) de ter assistido "500 Dias..." é que a verdade soou um pouco fundo demais. Nunca me sinto bem com filmes assim. Em certos momentos é bom ficar apenas com os romanticozinhos fantasiosos mesmo.

Nattércia Damasceno disse...

500 dias com ela foi o filme que 'assisti' no fatídico episódio do tarado no cimena (vide sugestivel.blogspot.com).
E é isso aí mesmo que você escrever. Aliás, é tudo isso aí mesmo.
E a montagem é bacana demais, não?
Como disse no twitter, acabo de perceber que minha vida é baseada na divisão de tela Realidade e Expectativa.

Menina de óculos disse...

Ai, Samuel..

Achei lindo ler teu texto falando sobre minhas teorias. Só lamento tu num ter me dado o crédito da história do Ritual de Passagem. Mas, mesmo assim, me sinto feliz em saber que eu faço diferença na tua vida...
rsrsrsrsrss

P.s: Num esquece o filme, hein..

bjs

Paulo Victor disse...

Já havia ouvido falar do filme.
Mas não tão bem como aqui.
É um roteiro até simples, mas que me parece mergulhar numa situação tão única que quem vê e divide os mesmos sentimentos com Tom, se identifica na hora.
Eu fui um desse e não termino minha semana sem o assitir.

Até mais Bryan.

Universo Cidade disse...

não li o texto todo,pq pq? Estou em dias de vestibular e sem tempo,paradoxo com o filme,enquanto o carinha quer liberdade eu lutando por uma prisao de sei lá,4 anos e se der sorte outras prisoes de segurança maxima[um emprego],assisti o filme,gostei,da vontade de por a moxila nas costas meio "On The Road " voltarei aqui p ler o texto integral e comentar realmente! ate mais!

Kamilla Barcelos disse...

Eu já queria assistir "500 dias com ela", agora co o comentário q vc fez eu fiquei mais louca ainda p/ ver! Na Natureza Selvagem tb faz tempo q quero assistir, principalmente q eu estou no momento da minha vida bem fatídico: escolher profissão, faculdade...

Clara Campelo disse...

assisti 500 Days of Summer ontem.
gostei um bocado tbm e ja me compararam muito aquela garota. oq é pessimo se um dia eu seguir inconcientemente a sina que lhe foi imposta no filme uHSUsh
enfim.. blog massa.
bjs

FOXX disse...

esse seu blog é perfeito
babo nele!