segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Os 10 melhores filmes de 2016 que você NÃO assistiu

Mais um ano se passa e com ele um legado cinematográfico de qualidade marcante fica. Este ano, “os 10 melhores filmes que você Não assistiu” traz uma lista especial, pouco sortida em países e alguns até bem pop, mas com uma série de obras que realmente valem a pena serem vistas.

O único país estreante na lista é a Rússia, que hilariamente está com um filme em inglês. E embora seja os Estados Unidos o país com maior número de indicações este ano, é a Coréia do Sul que emplacou duas obras no pódio.

Ah, e vale a pena lembrar que o post não passa de uma brincadeira para trocar experiências sobre filmes não muito badalados pelo mundo.
Do mais, espero que curtam!

Obs: nem todos os filmes citados foram produzidos e lançados em seus países de origem em 2016, mas né, eu só assisti agora. 

10º lugar: Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry – Rússia)
Financiado coletivamente e com alguns problemas para o lançamento, Hardcore Henry é uma experiência cinematográfica no mínimo diferente. A começar por ser todo em primeira pessoa, sob a perspectiva de um protagonista que não fala simplesmente nada. Pense no filme como um jogo de vídeo game. Um homem acorda sem memória num laboratório e descobre que seu corpo foi modificado para se tornar um ciborgue por sua própria namorada. Quando um grupo paramilitar (liderado por um cartunesco vilão com poderes telecinéticos) invade as instalações e sequestra sua garota, o protagonista começa a viver momentos completamente bizarros como as fases de um jogo, onde muita violência é alternada com momentos de uma história completamente sem noção e... absurdamente divertida. Por isso é um filmaço. Ele não exige nada da gente e nem se propõe a ser uma maravilha sobre a terra, cumprindo muito bem o papel de simplesmente entreter.

9º lugar: Green Room (mesmo título – EUA)
Marcado como um dos últimos filmes do ator Anton Yelchin (que morreu esmagado em um acidente bizarro), Green Room primeiro desagrada, para só depois de um certo tempo passarmos a gostar da ideia que ele nos traz. É um filme de terror, mas que não se enquadra nos conceitos atuais com entidades sobrenaturais ou assassinos psicopatas. Green Room é um filme de terror porque seu vilão é a ideologia de medo, e disse todos nós podemos ser vítimas. Uma banda de punk formada por jovens está em fim de turnê pela estrada, quando é contratada para tocar num evento de neonazistas. O problema vem quando, no improvisado camarim com luz esverdeada, a banda presencia um crime. A partir daí começa um jogo de gato e rato violento, cruel, frio... O filme sabe como criar um clima de tensão crescente, tanto que demora a apresentar Patrick Stewart (em atuação espetacular) como o vilão monstruoso e, o pior de tudo, como um vilão absurdamente real.

8º lugar: Kingsglave – Final Fantasy XV (mesmo título – Japão)
Ao levar dez anos produzindo o jogo Final Fantasy XV, a produtora Square Enix decidiu que como parte da ação de marketing, lançaria um filme em animação que funcionaria como prelúdio do jogo. E que ação de marketing... Kingsglaive: Final Fantasy XV é uma fantasia em ficção científica, nos apresentando um mundo em guerra. Com dois reinos em conflito há muito tempo, apenas um deles é capaz de usar a magia dos cristais, enquanto o outro aprimorou sua tecnologia militar. Quando o rei Lucius se vê obrigado a aceitar um tratado de paz com o Império de Niflheim, é a guarda Kingsglaive a responsável para que tudo saia certo. Infelizmente, Niflheim possui outros planos envolvendo caos e destruição. Sim, a trama é longa e confusa mesmo, mas prestando atenção a coisa flui de forma bela. Falando em beleza, poucas animações são tão exuberantes. Talvez a Square tenha nos presenteado com o melhor filme em animação até hoje. E o elenco de dublagem americana conta com Aaron Paul, Sean Bean e Lena Headey.

7º lugar: Hush – A Morte Ouve (Hush – EUA)
Hush é um daqueles casos magníficos no cinema em que com menos se faz mais. Sem inovar em absolutamente nada, temos aqui a história de Maddie, uma escritora que se isola em uma cabana no meio da floresta para tentar escrever seu novo romance. Numa noite, prestes a encerrar o livro, Maddie é surpreendida por um homem que a faz prisioneira em sua própria casa com um único e cruel objetivo: mata-la simplesmente por diversão. Ah, para deixar a situação ainda mais complicada, Maddie é surda muda. No hall dos filmes em que mulheres são protagonista, Hush se destaca muito com sua personagem, que mesmo aterrorizada pela situação a enfrenta com força e perspicácia. Inteligente, Maddie faz o possível para sobreviver, enquanto seu algoz perde pontos ao achar que devido a limitação da vítima, sua morte lhe daria pouco trabalho. Hush também é emocionante. À medida que vamos nos encantando com a protagonista, queremos apenas que ela sobreviva. A conversa que ela tem consigo mesma nos momentos finais e a mensagem escrita no computador chegam a marejar os olhos. Um filme de sobrevivência, mas acima de tudo, de garra.

6º lugar: Southbound (mesmo título – EUA)
Sendo uma antologia de terror apresentando cinco contos interligados, Southbound foi uma das maiores surpresas do ano no gênero. Cinco histórias diferentes cuja maior ligação entre elas é a estrada que os personagens cruzam durante os acontecimentos. E embora cada história comece exatamente quando termina a anterior, não ache que terá aqui um filme didático, com todos os suspenses explicados e respostas claras. A coletânea indie abre um universo de explicações para o universo extremamente sombrio do filme, mas são os segundo e terceiro contos os mais impressionantes, com destaque para o do hospital abandonado, cuja proposta soa melancólica e diabólica. O final também é bastante aberto, mesmo que encerre o ciclo de forma extremamente satisfatória junto a uma estrada que ninguém deveria cruzar.

5º lugar: Yakuza Apocalypse (Gokudō Daisensō – Japão)
Que o diretor Takashi Miike gosta de bizarrices e surrealismo, isso é um fato, mas o nível do que ele nos entrega em Yakuza Apocalypse beira o insano. A começar porque é simplesmente impossível definir o gênero pelo qual o filme transborda. Temos aqui um conto de terror vampiresco, com criminalidade da máfia japonesa, junto a doses certeiras de comédia e kung fu. Numa vila controlada pela máfia, mas em grande harmonia com seu respeitado líder, as coisas mudam de figura com a chegada de um cartel inimigo. Kagayama, o guarda-costas do líder, não consegue salvá-lo, mas é na morte que ele descobre que o chefe é um vampiro e dá uma mordida no pescoço do jovem com o objetivo de transformá-lo no novo líder do cartel. O problema é que o rapaz não se deu muito bem com os poderes novos e... bem... bebeu o sangue de todo mundo da vila, transformando todos em membros da Yakuza. Ainda assim, o outro cartel não mede esforços para dar um jeito em Kagayama, invocando inclusive um mestre das artes marciais. Não importa o nível de nosense, é um filme extremamente bem dirigido e produzido, rico em detalhes capazes de nos tirar os mais diferentes tipos de emoção, até mesmo a raiva em seu (mais uma vez) bizarro final.

4º lugar: Kill Your Friends (mesmo título – Reino Unido)
Quando eu comecei a assistir Kill Your Friends, meio veio na cabeça logo o clássico Psicopata Americano. De fato, há uma estranha semelhança entre os filmes, mas à medida que Kill Your Friends cresce (e cresce muito, diga-se de passagem), a obra assume um tom gritante único. A história gira em torno de Steven, um produtor musical nos anos 90 que busca emplacar novos sucessos comerciais e assim crescer dentro da empresa. Tudo tranquilo se Steven não fosse um psicopata, maníaco, filho da puta, cretino e matado seu colega de trabalho logo no começo do filme na tentativa de conseguir uma promoção. O desenrolar do filme é simplesmente espantoso. Por vezes achamos que ele perderá força, mas sempre acontece o contrário. Steven se vê perseguido pela polícia, sua subalterna na empresa e, principalmente, pela música. O elenco está simplesmente sensacional, mas é Nicholas Hoult quem rouba a cena em uma atuação visceral, de um personagem que se comporta como uma fênix, independente da falta total de caráter.

3º lugar: Invasão Zumbi (Train to Busan – Coréia do Sul)
Difícil essa lista não ter pelo menos um filme de zumbi e esse é o da vez. Mas não se engane, Invasão Zumbi (que nome horrível para o Brasil) se destaca fácil como um dos melhores (talvez o melhor) filme de zumbis da década. Quando um pai decide viajar de trem com a pequena filha, ninguém contava que uma infecção zumbi se espalharia de forma incrivelmente rápida por toda a Coréia. Não há simplesmente nada de inovador no gênero aqui. O que temos é uma história muito bem contada e amarrada com os passageiros do trem sendo obrigados a enfrentar uma batalha sem precedentes se quiserem viver. Train to Busan tem personagens carismáticos, cenas de carnificina espetaculares (mesmo sem mostrar nenhuma tripa), reviravoltas sensacionais e até um vilão inesperado. Mas o que decide se um filme de zumbis é bom sempre será o que ele traz no campo das relações humanas e é nisso que este se destaca, porque o pior e o melhor do ser humano vêm nas catástrofes.

2º lugar: Demônio de Neon (The Neon Demon – EUA)
Numa época em que os padrões de beleza nunca foram tão discutidos e ao mesmo tempo tão idolatrados, Demônio de Neon nos traz a questão: seria a beleza perfeita alcançável? Um dos fatos mais interessantes sobre este filme é que você irá ou amá-lo ou odiá-lo pelos mesmos motivos. Na trama, somos apresentados a jovem Jesse, dona de uma beleza tão monumental, tão insuperável, que as portas de tudo se abrem para ela. De fato, temos aqui a velha e boa fábula da garota do interior inocente, que à medida que o mundo cai aos seus pés, vai se tornando outra pessoa. Mas o mesmo mundo que a ama é o mesmo mundo que a inveja e a deseja, fazendo do filme uma dura e visceral crítica aos padrões que nos são impostos. Particularmente, achei o filme uma obra prima. A trilha sonora causa uma imersão profunda, a fotografia é exuberante e seu ritmo, mesmo muito lento, é fluído. As atuações de todas as mulheres são hipnotizantes, enquanto os homens não passam de fracos coadjuvantes (inclusive um coadjuvante de luxo no caso de Keanu Reeves). Mas Elle Fanning não ganhou o papel principal à toa. Sua beleza é quase poética. E seu discurso à beira da piscina vazia é de longe o momento mais impressionante do filme, antes de seu aterrorizante final e o surgimento de um novo questionamento: Até aonde você seria capaz de ir para ser bela? Afinal, Demônio de Neon é uma prova de que o mundo da beleza é de fato o maior roteiro de horror que nossa sociedade produziu.

1º lugar: The Handmaiden (Agassi – Coréia do Sul)
É difícil para qualquer filme competir nos melhores do ano pra mim quando há o lançamento de uma obra de Park Chan-wook. E com este a regra não diverge. Esteticamente sublime, com um roteiro que você não está preparado para encarar e atuações monumentais, essa obra de 145 minutos te envolve tanto a ponto de querer começar de novo assim que termina-la. Dividido em três atos, The Handmaiden se passa numa pobre Coréia durante a ocupação japonesa. Sook-hee, uma jovem que vive de pequenos golpes com a família, aceita participar do grande plano do trambiqueiro Count Fujiwara de roubar a fortuna da japonesa Hideko, guardada a sete chaves por seu doentio tio. O plano funciona até que Sook percebe que está se apaixonando por Hideko e uma reviravolta monumental acontecer no romance entre as duas garotas. É um filme imersivo. A complexidade de seus personagens nos envolve muito na trama. A história também é recheada de um erotismo tanto atraente, ao focar no romance entre as duas protagonistas, como repulsivo, na figura do tio controlador que usa Hideko em leituras vulgares para magnatas. Não consigo dizer se é o melhor filme de Park Chan-wook, mas ao terminar The Handmaiden, fiquei com um sentimento grandioso no peito, refletido numa única palavra durante a passagem dos créditos finais: “Uau”.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Os 10 melhores filmes de 2015 que você NÃO assistiu

Demorou, mas saiu! A lista dos melhores filmes de 2015 que você NÃO assistiu está bem acessível esse ano, com obras que fizeram razoável sucesso mesmo fora de circuito e até uma superprodução. O único país estreante da lista esse ano é a Áustria, todos os outros são velhos conhecidos e vale a pena lembrar que o post não passa de uma brincadeira para trocar experiências sobre filmes não muito badalados pelo mundo.
Do mais, divirtam-se!

Obs: nem todos os filmes citados foram produzidos e lançados em seus países de origem em 2015, mas né, eu só assisti agora.

10º lugar: [REC] 4: Apocalipse ([REC] 4: Apocalypse – Espanha)
Depois da bosta que foi REC 3: Gênesis (sério, esse filme é muito ruim, evitem), os fãs do terror de zumbis espanhol (que ganhou ate uma fraca versão americana) voltaram suas atenções para Apocalipse, a verdadeira continuação da parte 2. E embora não tenha sido lá essas coisas, ao menos nos entregaram uma conclusão razoável. O filme volta a retratar os acontecimentos de Angela Vidal, que terminou sua participação em [REC] 2: Possuídos de uma forma bastante peculiar, garantindo assim, um gancho emocionante para uma sequência que teria tudo para fechar a história da franquia com chave de ouro. Se passando num navio cargueiro carregado de cientistas e soldados que garantam que nada de errado aconteça e a infecção zumbi volte a se espalhar, o filme tem umas sacadas ótimas. O ambiente claustrofóbico e medonho do navio é ótimo para as tomadas por si só, as cenas de ação são boas mesmo, mas a falta de reviravoltas e um clímax bem pouco empolgante botaram muito a perder. REC 4 vale a pena para os fãs terem uma conclusão e satisfaz, mas fica o gostinho de que acabaram mal algo que tinha muito potencial.

9º lugar: Saint Laurent (França)
A cinebiografia do estilista francês (segunda a tentar algum feito, tendo em vista que a primeira quis abraçar o mundo com as pernas e não conseguiu) foca a conturbada relação amorosa entre o artista e Pierre Bergé, “marido” e administrador de sua carreira. Com a diferença de que Saint-Laurent nasceu para subir, e Bergé para preparar a escada, a coisa fica mais pesada quando Jacques de Bascher (Louis Garrel) se torna amante do estilista, fazendo-o mergulhar em sua fase mais depreciativa, explodindo em casos de drogas, promiscuidade e quase levando ao fim o império da marca. Gaspard Ulliel está fascinante como YSL, assim como todo o elenco principal. E embora cheia de grandes nomes, o mundo da moda possui poucos revolucionários e Yves foi um deles, com uma história de vida e profissional grandiosa. Ainda assim o filme não consegue transmitir bem tudo isso. Ao focar apenas em uma parte de sua vida, nos faz perder o “começo” real. O filme brilha, mas não tanto quanto aquele que lhe deu vida.

8º lugar: Pasolini (França/Itália/Bélgica)
No dia de sua morte, Pasolini passa suas últimas horas com sua amada mãe e mais tarde com os seus amigos mais queridos, antes de finalmente sair para a noite em seu Alfa Romeo em busca de aventuras sexuais com os garotos que vendem seus corpos na Cidade Eterna. Ao amanhecer, Pasolini é encontrado morto em uma praia em Ostia, na periferia da cidade. Isso é Pasolini, filme que mistura os acontecimentos reais dos últimos momentos do polêmico diretor italiano com ficção baseada em suas ideias. É um filme curto, mas que gera um deleite sobre a criação do anarquista imaginário que gerou um de meus filmes favoritos: Salò ou Os 120 Dias de Sodoma. Willem Dafoe está magnânimo no papel, não entendo como passou batido por premiações.

7º lugar: A Centopeia Humana 3 (The Human Centipede 3: Final Sequence – EUA)
Gore, completamente sem sentido, machista, depreciativo, nojento e ainda assim divertidíssimo. A Centopeia Humana 3 joga pro alto a tentativa de ser um filme de terror sério e indigesto que tentou no capítulo 2 e aposta num gore de comédia em sua parte final. Na trama, o diretor de um grande presídio Bill Boss (Dieter Laser, excelente) precisa lidar com problemas como rebeliões, rotatividade e a falta de reconhecimento do governador (Eric Roberts, que só deus sabe porque aceitou esse papel). Vendo que Boss não tem nenhuma perspectiva de resolver esses problemas, Dwight (Laurence R. Harvey), seu braço-direito, surge com uma ideia capaz de revolucionar o sistema penitenciário americano: a criação de uma centopeia humana de 500 pessoas. O filme tem alguns pontos interessantes a serem notados, principalmente em como usa metalinguagem, já que em seu universo o 1 e 2 são realmente filmes que irão inspirá-los e o diretor do filme aparece como... diretor do filme. Sim, Tom Six aparece como diretor dos primeiros filmes e compartilha com o administrador penitenciário a ideia para botar em prática. É bizarro!

6º lugar: Mommy (Canadá)
Xavier Dolan criou uma legião de fãs ao lidar com problemas atuais, mas saindo dos óbvios, de uma juventude moderna. Com Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários, trouxe fábulas que encantaram os jovens com visões romantizadas sobre situações em que se identificavam. E ao quebrar essa fórmula em Mommy, ele mesmo, sem parecer, se reinventa e traz seu mais belo e maduro filme. Se em Eu Matei Minha Mãe tínhamos a visão do jovem homossexual que não era aceito pela mãe, agora em Mommy a visão vem da mãe de um jovem rapaz que sofre de bipolaridade. É dramático, intenso, conflituoso e belo. Na trama, Die (Anne Dorval) diz que nunca vai abrir mão de cuidar de seu filho adolescente, Steve (Antoine-Olivier Pilon), mesmo que os acessos de fúria dele encontrem combustível no temperamento igualmente curto da mãe. O filme é todo projetado em janela 1:1, quadrada, com exceção de duas cenas (uma delas belíssima), o que dá um charme único típico das obras de Dolan. Tudo na tela é forte, até os momentos de felicidade do trio de protagonistas (a vizinha acaba fazendo parte). E mesmo com um ar amedrontador para o espectador de "isso vai dar merda uma hora ou outra", Dolan consegue a mágica de nos fazer respirar aliviados quando tudo terminar.

5º lugar: O Expresso do Amanhã (Snowpiercer – Coréia do Sul/EUA)

Muito se tentou que o cinema oriental de fantasia convergisse com produção ocidental. E acreditem, é um desafio. Tanto que O Expresso do Amanhã é o que mais chega perto disso. Aliás, com direção coreana, produção americana e baseada em uma HQ francesa, é um dos elementos pops mais viajados que eu já vi. E é sensacional. Após um experimento para tentar controlar o aquecimento global, a Terra foi congelada e tudo fora do trem Perfuraneve morreu. Porém, o trem é autossuficiente, dá a a volta ao redor do mundo e gera energia, mas dentro dele as castas criadas pelo capitalismo continuam existindo. Os ricos e poderosos moram na ponta com todas as suas vantagens possíveis, os pobres e miseráveis no fundo, onde se alimentam porcamente e vez ou outra tem suas crianças roubadas. O resultado inevitável? Revolução. Com os debates cada vez mais acirrados no mundo sobre divisão de classes, mesmo Snowpiercer sendo uma obra de fantasia absurda, ele nos leva a reflexão de se colocar no lugar do outro. Mas são seus elementos pops orientais que mais me fascinaram, como a cena épica que precede a luta ao entrar num túnel. O final completamente inesperado e pessimista e a atuação atraente de Chris Evans e Tilda Swinton completam o poder de atração do filme.

4º lugar: Perseguição Virtual (Open Windows – EUA)
Muitos filmes procuraram aplicar o diferencial de usar aquilo que faz parte do mundo das pessoas reais para serem feitos. Eu lembro de anúncios de filmes feitos apenas com a câmera do celular e bem... a maioria é uma droga mesmo. Mas esse não. Esse é épico. Com um título medíocre no Brasil, Open Windows é um filme que busca ser documental e consegue na sua forma mais inesperada. Todas as imagens vem dos equipamentos usados pelos protagonistas. Desde as câmeras dos notebooks e celulares, até de carros, segurança ou simplesmente câmeras de mãos. A história de Nick, fã da atriz Jill, que acha que ganhou uma promoção para conhecê-la, mas na verdade cai numa teia diabólica de psicopatia e luta de hackers, parece simples e repulsiva a princípio, mas é divertidíssima, principalmente pela quantidade absurda de reviravoltas. É um experimentalismo sobre uma fórmula já batida, que nasceu com A Bruxa de Blair e aqui toma outros níveis.

3º lugar: Corrente do Mal (It Follows – EUA)
It Follows poderia terminar o ano como um dos mais brilhantes filmes de terror da década. Poderia... A premissa, a fotografia, a trilha sonora mínima e pontual com sintetizadores, o medo real que ele nos transmite, principalmente assistindo sozinho num quarto escuro... Tudo isso é incrível. E embora a ideia de uma jovem que é amaldiçoada após o sexo com uma entidade maligna que irá caçá-la para mata-la - se ela não transmitir a outra pessoa - pareça mais um teen movie de terror (Deus, como A Forca e Unfriended são horríveis), It Follows tem um porte único, elegância, produção caprichada e no fim se torna uma metáfora sobre o fim da inocência. O filme também bebe obviamente de fontes japonesas como O Chamado, afinal temos aqui uma maldição sem fim e sem sensação de esperança. Poderia ser perfeito... mas da metade pro final quebra uma magia danada ao tornar a entidade em algo “físico, mas invisível” e seu ápice é broxante, embora retome para um desfecho muito satisfatório. Vale a pena, ficará um tempo na sua memória lhe perturbando, mas dificilmente lhe marcará como um clássico.

2º lugar: O Predestinado (Predestination – Austrália)
Uma das ficções mais sensacionais que tive o prazer de assistir nesta vida, Predestination é pra pegar o seu cérebro e transformar num polenguinho. Na trama, que se revelar muito estraga, o ator Ethan Hawke vive um agente que viaja no tempo para garantir que grandes crimes não aconteçam. Em sua última missão, o agente deve perseguir o único criminoso temporal que continua foragido, o Detonador Sussurrante (olha que nome maravilhoso pra um vilão, com um nome desse não tem como o filme ser ruim). Ainda assim, sua última missão é mais complicada por necessitar que Hawke coloque pingos finais nas mudanças temporais que fez, precisando se encontrar inicialmente com um jovem no bar que carrega um grande sentimento de vingança dentro de si. Integra o elenco ainda Sarah Snook, que embora uma atriz novata, leva seu papel com capacidade de nos fazer se emocionar e surtar. O final também é pra fazer ficar sem ar.

1º lugar: Goodnight Mommy (Ich seh, ich she – Áustria)
Com a necessidade de reinvenção do terror no início do século, um novo estilo passou a ser o verdadeiro criador de mitos no gênero: o psicológico. Suas ramificações passaram então a ser infinitas se levarmos em consideração mentes geniais que souberam explorar esse estilo, por vezes ainda usando o sobrenatural (Os Outros), ou não (Martyrs). Goodnight Mommy segue essa cartilha e acerta brilhantemente. Comparado injustamente ao australiano The Babadook por ser um terror em família, o filme austríaco envereda por uma ramificação muito mais pesada, sombria e, principalmente, angustiante. No filme, os gêmeos Lukas e Elias estão simplesmente sozinhos numa bela casa de campo esperando sua mãe, Suzanne, retornar de uma cirurgia plástica na face. Com o retorno da mãe e um comportamento inesperado, os gêmeos levantam uma dúvida perturbadora: talvez aquela não seja sua mãe. Não se deve falar do desenrolar aqui. O filme é curto e cheio de surpresas, embelezado por paisagens nubladas e atuações brilhantes. Não espere sustos, medo ou terror como antigamente. Se prepare para ficar preso na cadeira, apertando o encosto e com bastante angústia e receio pelo caminho que o filme traça. No fim, Goodnight Mommy é um terror “minimamente real” por tratar em parte do abandono familiar.