Os 10 melhores filmes de 2015 que você NÃO assistiu
Demorou, mas saiu! A lista dos melhores filmes de 2015 que você NÃO assistiu está bem acessível esse ano, com obras que fizeram razoável sucesso mesmo fora de circuito e até uma superprodução. O único país estreante da lista esse ano é a Áustria, todos os outros são velhos conhecidos e vale a pena lembrar que o post não passa de uma brincadeira para trocar experiências sobre filmes não muito badalados pelo mundo.
Do mais, divirtam-se!
Obs: nem todos os filmes citados foram produzidos e lançados em seus países de origem em 2015, mas né, eu só assisti agora.
Depois da bosta que foi REC 3: Gênesis (sério, esse filme é muito ruim, evitem), os fãs do terror de zumbis espanhol (que ganhou ate uma fraca versão americana) voltaram suas atenções para Apocalipse, a verdadeira continuação da parte 2. E embora não tenha sido lá essas coisas, ao menos nos entregaram uma conclusão razoável. O filme volta a retratar os acontecimentos de Angela Vidal, que terminou sua participação em [REC] 2: Possuídos de uma forma bastante peculiar, garantindo assim, um gancho emocionante para uma sequência que teria tudo para fechar a história da franquia com chave de ouro. Se passando num navio cargueiro carregado de cientistas e soldados que garantam que nada de errado aconteça e a infecção zumbi volte a se espalhar, o filme tem umas sacadas ótimas. O ambiente claustrofóbico e medonho do navio é ótimo para as tomadas por si só, as cenas de ação são boas mesmo, mas a falta de reviravoltas e um clímax bem pouco empolgante botaram muito a perder. REC 4 vale a pena para os fãs terem uma conclusão e satisfaz, mas fica o gostinho de que acabaram mal algo que tinha muito potencial.
9º lugar: Saint Laurent (França)
A cinebiografia do estilista francês (segunda a tentar algum feito, tendo em vista que a primeira quis abraçar o mundo com as pernas e não conseguiu) foca a conturbada relação amorosa entre o artista e Pierre Bergé, “marido” e administrador de sua carreira. Com a diferença de que Saint-Laurent nasceu para subir, e Bergé para preparar a escada, a coisa fica mais pesada quando Jacques de Bascher (Louis Garrel) se torna amante do estilista, fazendo-o mergulhar em sua fase mais depreciativa, explodindo em casos de drogas, promiscuidade e quase levando ao fim o império da marca. Gaspard Ulliel está fascinante como YSL, assim como todo o elenco principal. E embora cheia de grandes nomes, o mundo da moda possui poucos revolucionários e Yves foi um deles, com uma história de vida e profissional grandiosa. Ainda assim o filme não consegue transmitir bem tudo isso. Ao focar apenas em uma parte de sua vida, nos faz perder o “começo” real. O filme brilha, mas não tanto quanto aquele que lhe deu vida.
8º lugar: Pasolini (França/Itália/Bélgica)
No dia de sua morte, Pasolini passa suas últimas horas com sua amada mãe e mais tarde com os seus amigos mais queridos, antes de finalmente sair para a noite em seu Alfa Romeo em busca de aventuras sexuais com os garotos que vendem seus corpos na Cidade Eterna. Ao amanhecer, Pasolini é encontrado morto em uma praia em Ostia, na periferia da cidade. Isso é Pasolini, filme que mistura os acontecimentos reais dos últimos momentos do polêmico diretor italiano com ficção baseada em suas ideias. É um filme curto, mas que gera um deleite sobre a criação do anarquista imaginário que gerou um de meus filmes favoritos: Salò ou Os 120 Dias de Sodoma. Willem Dafoe está magnânimo no papel, não entendo como passou batido por premiações.
7º lugar: A Centopeia Humana 3 (The Human Centipede 3: Final Sequence – EUA)
Gore, completamente sem sentido, machista, depreciativo, nojento e ainda assim divertidíssimo. A Centopeia Humana 3 joga pro alto a tentativa de ser um filme de terror sério e indigesto que tentou no capítulo 2 e aposta num gore de comédia em sua parte final. Na trama, o diretor de um grande presídio Bill Boss (Dieter Laser, excelente) precisa lidar com problemas como rebeliões, rotatividade e a falta de reconhecimento do governador (Eric Roberts, que só deus sabe porque aceitou esse papel). Vendo que Boss não tem nenhuma perspectiva de resolver esses problemas, Dwight (Laurence R. Harvey), seu braço-direito, surge com uma ideia capaz de revolucionar o sistema penitenciário americano: a criação de uma centopeia humana de 500 pessoas. O filme tem alguns pontos interessantes a serem notados, principalmente em como usa metalinguagem, já que em seu universo o 1 e 2 são realmente filmes que irão inspirá-los e o diretor do filme aparece como... diretor do filme. Sim, Tom Six aparece como diretor dos primeiros filmes e compartilha com o administrador penitenciário a ideia para botar em prática. É bizarro!
6º lugar: Mommy (Canadá)
Xavier Dolan criou uma legião de fãs ao lidar com problemas atuais, mas saindo dos óbvios, de uma juventude moderna. Com Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários, trouxe fábulas que encantaram os jovens com visões romantizadas sobre situações em que se identificavam. E ao quebrar essa fórmula em Mommy, ele mesmo, sem parecer, se reinventa e traz seu mais belo e maduro filme. Se em Eu Matei Minha Mãe tínhamos a visão do jovem homossexual que não era aceito pela mãe, agora em Mommy a visão vem da mãe de um jovem rapaz que sofre de bipolaridade. É dramático, intenso, conflituoso e belo. Na trama, Die (Anne Dorval) diz que nunca vai abrir mão de cuidar de seu filho adolescente, Steve (Antoine-Olivier Pilon), mesmo que os acessos de fúria dele encontrem combustível no temperamento igualmente curto da mãe. O filme é todo projetado em janela 1:1, quadrada, com exceção de duas cenas (uma delas belíssima), o que dá um charme único típico das obras de Dolan. Tudo na tela é forte, até os momentos de felicidade do trio de protagonistas (a vizinha acaba fazendo parte). E mesmo com um ar amedrontador para o espectador de "isso vai dar merda uma hora ou outra", Dolan consegue a mágica de nos fazer respirar aliviados quando tudo terminar. 5º lugar: O Expresso do Amanhã (Snowpiercer – Coréia do Sul/EUA)
Muito se tentou que o cinema oriental de fantasia convergisse com produção ocidental. E acreditem, é um desafio. Tanto que O Expresso do Amanhã é o que mais chega perto disso. Aliás, com direção coreana, produção americana e baseada em uma HQ francesa, é um dos elementos pops mais viajados que eu já vi. E é sensacional. Após um experimento para tentar controlar o aquecimento global, a Terra foi congelada e tudo fora do trem Perfuraneve morreu. Porém, o trem é autossuficiente, dá a a volta ao redor do mundo e gera energia, mas dentro dele as castas criadas pelo capitalismo continuam existindo. Os ricos e poderosos moram na ponta com todas as suas vantagens possíveis, os pobres e miseráveis no fundo, onde se alimentam porcamente e vez ou outra tem suas crianças roubadas. O resultado inevitável? Revolução. Com os debates cada vez mais acirrados no mundo sobre divisão de classes, mesmo Snowpiercer sendo uma obra de fantasia absurda, ele nos leva a reflexão de se colocar no lugar do outro. Mas são seus elementos pops orientais que mais me fascinaram, como a cena épica que precede a luta ao entrar num túnel. O final completamente inesperado e pessimista e a atuação atraente de Chris Evans e Tilda Swinton completam o poder de atração do filme.
4º lugar: Perseguição Virtual (Open Windows – EUA)
Muitos filmes procuraram aplicar o diferencial de usar aquilo que faz parte do mundo das pessoas reais para serem feitos. Eu lembro de anúncios de filmes feitos apenas com a câmera do celular e bem... a maioria é uma droga mesmo. Mas esse não. Esse é épico. Com um título medíocre no Brasil, Open Windows é um filme que busca ser documental e consegue na sua forma mais inesperada. Todas as imagens vem dos equipamentos usados pelos protagonistas. Desde as câmeras dos notebooks e celulares, até de carros, segurança ou simplesmente câmeras de mãos. A história de Nick, fã da atriz Jill, que acha que ganhou uma promoção para conhecê-la, mas na verdade cai numa teia diabólica de psicopatia e luta de hackers, parece simples e repulsiva a princípio, mas é divertidíssima, principalmente pela quantidade absurda de reviravoltas. É um experimentalismo sobre uma fórmula já batida, que nasceu com A Bruxa de Blair e aqui toma outros níveis.
3º lugar: Corrente do Mal (It Follows – EUA)
It Follows poderia terminar o ano como um dos mais brilhantes filmes de terror da década. Poderia... A premissa, a fotografia, a trilha sonora mínima e pontual com sintetizadores, o medo real que ele nos transmite, principalmente assistindo sozinho num quarto escuro... Tudo isso é incrível. E embora a ideia de uma jovem que é amaldiçoada após o sexo com uma entidade maligna que irá caçá-la para mata-la - se ela não transmitir a outra pessoa - pareça mais um teen movie de terror (Deus, como A Forca e Unfriended são horríveis), It Follows tem um porte único, elegância, produção caprichada e no fim se torna uma metáfora sobre o fim da inocência. O filme também bebe obviamente de fontes japonesas como O Chamado, afinal temos aqui uma maldição sem fim e sem sensação de esperança. Poderia ser perfeito... mas da metade pro final quebra uma magia danada ao tornar a entidade em algo “físico, mas invisível” e seu ápice é broxante, embora retome para um desfecho muito satisfatório. Vale a pena, ficará um tempo na sua memória lhe perturbando, mas dificilmente lhe marcará como um clássico.
2º lugar: O Predestinado (Predestination – Austrália)
Uma das ficções mais sensacionais que tive o prazer de assistir nesta vida, Predestination é pra pegar o seu cérebro e transformar num polenguinho. Na trama, que se revelar muito estraga, o ator Ethan Hawke vive um agente que viaja no tempo para garantir que grandes crimes não aconteçam. Em sua última missão, o agente deve perseguir o único criminoso temporal que continua foragido, o Detonador Sussurrante (olha que nome maravilhoso pra um vilão, com um nome desse não tem como o filme ser ruim). Ainda assim, sua última missão é mais complicada por necessitar que Hawke coloque pingos finais nas mudanças temporais que fez, precisando se encontrar inicialmente com um jovem no bar que carrega um grande sentimento de vingança dentro de si. Integra o elenco ainda Sarah Snook, que embora uma atriz novata, leva seu papel com capacidade de nos fazer se emocionar e surtar. O final também é pra fazer ficar sem ar.
1º lugar: Goodnight Mommy (Ich seh, ich she – Áustria)
Com a necessidade de reinvenção do terror no início do século, um novo estilo passou a ser o verdadeiro criador de mitos no gênero: o psicológico. Suas ramificações passaram então a ser infinitas se levarmos em consideração mentes geniais que souberam explorar esse estilo, por vezes ainda usando o sobrenatural (Os Outros), ou não (Martyrs). Goodnight Mommy segue essa cartilha e acerta brilhantemente. Comparado injustamente ao australiano The Babadook por ser um terror em família, o filme austríaco envereda por uma ramificação muito mais pesada, sombria e, principalmente, angustiante. No filme, os gêmeos Lukas e Elias estão simplesmente sozinhos numa bela casa de campo esperando sua mãe, Suzanne, retornar de uma cirurgia plástica na face. Com o retorno da mãe e um comportamento inesperado, os gêmeos levantam uma dúvida perturbadora: talvez aquela não seja sua mãe. Não se deve falar do desenrolar aqui. O filme é curto e cheio de surpresas, embelezado por paisagens nubladas e atuações brilhantes. Não espere sustos, medo ou terror como antigamente. Se prepare para ficar preso na cadeira, apertando o encosto e com bastante angústia e receio pelo caminho que o filme traça. No fim, Goodnight Mommy é um terror “minimamente real” por tratar em parte do abandono familiar.
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