quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Vamos falar de pornografia, mas de um jeito socialmente aceito e classificação Livre


Os novos heróis, por André Dahmer

Aquele que nunca teve contato com a pornografia que atire a primeira VHS da Brasileirinhas. Eu tive, você teve. Querendo ou não, se pararmos pra analisar, a pornografia audiovisual, por exemplo, acaba tendo um papel importante na descoberta sexual da maioria dos jovens principalmente do sexo masculino, devido às “necessidades” que surgem pelo corpo. Nas garotas, embora algumas tenham os mesmos objetivos dos rapazes, a pornografia acaba sendo também uma curiosidade.

Há quem tenha uma verdadeira fascínio pelo mundo da pornografia. E esses podem ser divididos em dois grupos: os mais afoitos (vulgarmente chamados de tarados), e aqueles que realmente encaram a produção como uma forma de arte e liberdade de expressão. E eu realmente tenho uma admiração pela pornografia/erotismo a ponto de pertencer ao segundo grupo.

E existem vários tipos de pornografia. A audiovisual é a mais famosa obviamente, ainda mais pela possibilidade mercadológica atual de se ter pornografia 24 horas por dia, 7 dias por semana, de graça, na internet. Já a literária é a mais “sofisticada”, chamada mais comumente de erótica. E existe aquela diferença drástica de que no audiovisual somos passivos e na literatura somos ativos. No vídeo só estamos vendo e “apreciando”, na literatura somos obrigado a fazer parte. Qual meu tipo favorito? Os dois sem predileção. Mas tenho um interesse um tanto quanto mais raro na visão por trás (ui!) do mundo pornográfico, aquilo que existe junto a um mundo que todos tem contato, mas quase ninguém admite.

Me lembro que quando criança mesmo eu assisti o polêmico filme O Povo Contra Larry Flynt (1996). Na excelente cinebiografia ambientada nos anos 70, temos Larry Flynt, dono de uma boate de strip tease que um dia lendo uma Playboy pensou: “As pessoas não compram essa revista para aprender a fazer martines, mas para ver mulheres nuas”.  Então ele criou a revista Hustler que foi um sucesso, onde expunha pornografia explícita. Resultado: Flynt se tornou um dos homens mais bem sucedidos do mercado editorial dos EUA vendendo aquilo que seu povo mais fingia odiar, pornô.

Obviamente, a história de vida de Flynt se torna mais incrível a partir do momento que ele teve que enfrentar a poderosa sociedade conservadora norte americana e mostrar que pornografia não é colocar homens e mulheres simplesmente fazendo sexo, mas é uma forma de liberdade de expressão. Se nos dias atuais a sociedade norte-americana ainda é vista como uma das mais (falsa) puritanas, imaginem só 40 anos atrás.

Mas ok, Flynt foi o cara e se hoje a indústria norte americana de pornografia rende 50 bilhões de dólares por ano (é muita foda, não?). Temos que dar parte do mérito pra ele, mas e os atores e atrizes? Eu sempre me questionei um pouco a vida de ator pornô e encaremos os fatos, a maioria dos homens ocidentais já se imaginou como um, é um fetiche. O filme Boogie Nights (que no Brasil ganhou o estranho título de Prazer Sem Limites) traz isso, a trajetória de um grupo de atores pornôs nos anos 70 e 80.

Mark Wahlberg, em seu primeiro papel de destaque, interpreta Eddie Addams que, devido ao tamanho avantajado de seu pênis, torna-se a estrela maior dos filmes de Jack Horner (Burt Reynolds), especialista nos chamados “filmes para adultos”. Só por aí já dá pra se mensurar o mérito de Anderson. Em momento algum, o filme faz qualquer gracejo ou lança um olhar nítido de censura sobre o mundo que está retratando. É um retrato dividido, que mistura o lado glamour, dinheiro, drogas e diversão com o mundo decadência, crise de identidade e desrespeito.

Boogie Nights é isso, uma forma de mostrar que escolher ser um ator pornô é na verdade uma profissão como qualquer outra, mas com uma verdade, uma cicatriz que será carregada pra vida inteira.

“Ah, mas você ta falando só de pornografia ficcional”, deve estar se questionando o querido leitor. Bem, indo um pouco pro campo da realidade (e melhor ainda, campo da realidade nacional), o minidocumentário Pornô dos Outros é simplesmente sensacional. Ele reúne alguns dos grandes nomes do pornô nacional em um banho de realidade. Dá pra tirar algumas frases sensacionais como: “Tá ali o iluminador com uma luz quente no seu rabo”, “Ai, foi tão bom apanhar, vocês nem imaginam”. Saca só!


Marcia Imperator (diva), Rogê Ferro, Vivi Fernandez, Victor Gaúcho (suspiro), Kim Mello e Pâmela Butt são um grupo a parte. Eles foram eles de verdade naquilo que fizeram. Fizeram porque precisavam, alguns fizeram porque gostaram, mas eles não querer mudar sua trajetória, não se tornaram pessoas piores ou melhores, e hoje, mesmo a maioria “aposentados” (encaremos os fatos, é uma profissão mais curta que jogador de futebol), estão aí seguindo suas vidas normalmente.

Já o mercado editorial pornográfico foi reaquecido recentemente por um best seller. A trilogia dos Cinquenta Tons de Cinza traz uma garota inocente, cheia de moral e ética que do nada vira o objeto de prazer sadomasoquista e bestial de um jovem sedutor bilionário. Embora válido na questão da libertação do pudor pela busca do prazer, 50 Tons é uma obra de baixo valor literário, que não dignifica de verdade o gênero, não a toa chamado de “Crepúsculo para mulheres de meia idade”.

Para os amantes de uma boa literatura que envolve a pornografia, eu recomendaria o clássico Fanny Hill, também conhecido como "Memórias de uma Mulher de Prazer" (gosto mais desse título). Clássico da literatura erótica, Fanny Hill tem amoralidade latente, fino senso de humor e ironia, e é uma divertida experiência literária cuja narrativa parece brincar com a moral e pensamento burguês de 1800, revelando certos aspectos marginais do Iluminismo. Viram como a chamada “putaria” pode se revelar uma forma de crítica social surpreendente? E vocês aí só imaginando sacanagem...

Outra obra que eu recomendo bastante é Os Sete Minutos, de Irving Wallace. Mas Os Sete não é uma obra realmente erótica, e sim uma grande discussão sobre o valor social e moral das obras eróticas. Com um estilo meio suspense/policial, traz a história de Michael Barret, advogado que assume a defesa de um livro considerado “obsceno” e alvo de um processo de censura por contrariar a lei penal da Califórnia. Pra piorar, um jovem chamado Jerry Griffith, cometeu um estupro supostamente influenciado pela leitura. Assim, estabelece-se a batalha na justiça, com Barret, brigando (em desvantagem, evidentemente) pela livre comercialização do livro. Com várias passagens sexuais e o aumento do suspense em sua parte final, Os Sete Minutos virou uma obra clássica.

Eu poderia parar pra recomendar também o livro Os Sonhos Morrem Primeiro, de Harold Robbins, mas encaremos os fatos, mesmo com forte status, esse foi um livro praticamente 50 Tons de Cinza na época. Embora eu considere a jornada do personagem Gareth pelo submundo obscuro dos prazeres proibidos e pela forma de ganhar dinheiro com pornografia infinitamente superior a obra do momento. Cada geração tem a obra erótica que merece pelo visto, mas me alegra que mesmo com a baixa qualidade, o erotismo/pornografia continua aí, firme e forte, porque se tem uma coisa que nunca sairá de moda entre os seres humanos, essa coisa se chama sexo.

Não, Dahmer, não...