segunda-feira, 21 de abril de 2008

T.O.P.A. ou não T.O.P.A. Que A Humanidade Não Deu Certo?

Samuel Bryan durante a T.O.P.A., só que sem gostar de criancinhas

Faltam menos de duas semanas para o meu aniversário. Pessoas próximas a minha pessoa sabem que o breve período (breve pros outros, porque pra mim...) que precede essa data de magnífica relevância para a raça humana é marcado por uma instabilidade emocional da minha parte que geralmente atinge o contingente de pessoas ao meu redor de forma subliminarmente negativista, resultando também em reações fisiológicas adversas e mal estar narcisístico em proporções catastróficas. Traduzindo: eu fico puto, de mal humor, querendo que todo mundo se exploda, querendo que eu me exploda, com transtornos psicóticos assassinos freqüentes, que também refletem na minha aparência, me deixando cheio de espinhas e com uma repulsa tão grande ao espelho que toda vez que eu passo na frente de um, a vontade é de quebrá-lo, pegar um caco bem grande e mutilar minha face. Pronto, desabafei!

A esse momento único antecedente a cada primavera eu dei um nome científico bastante presença, T.O.P.A., Transtorno Obsessivo Pré Aniversário. Ai geral que lê esse blog vai pensar, “Mas isso não se chama inferno astral?” e eu respondo que nem respondi pro Cristiano, “É porque assim funciona como uma explicação psicológica boa para pessoas que como eu não acreditam em astrologia” e ele solta a máxima, “pra mim parece outra coisa, V.E.P.A., Viadagem Extrema Pré Aniversário”. Preciso nem dizer nesse estado o que eu respondi pra ele, né?

Como resultado da T.O.P.A., a melhor coisa que eu posso fazer pelo meu bem e o bem alheio, é me isolar do resto do mundo ate que como um furação, tudo passe naturalmente e eu só levante a cabeça pra ver a bagaceira que ficou. E pra esse último feriado eu tava com um plano perfeito, comprar um aparelho de DVD novo, me trancar no meu quarto-fortaleza e assistir pencas de filmes. Botei meu pé na rua com medo do que poderia acontecer, mas fui atrás de alguma loja pra comprar o DVD. Quem disse que eu encontrei alguma aberta? Eu andei, surtei, gritei, até xinguei o sol. NÃO TINHA UMA PORRA DE LOJA DE ELETRÔNICOS ABERTA. Minha avó tentava me consolar/abrir-os-olhos dizendo que era feriado e aí eu resolvi descontar minha raiva em Rio Branco, “Então eu quero que abra logo uma Casas Bahia aqui nessa cidade pra falir de vez com todo essa droga de comércio provinciano”.

Frustrado e sem DVD, fui numa farmácia comprar mais um xarope com gosto de óleo de peixe (ah, esqueci de dizer, ainda estou morrendo). Antes de pagar, vejo uma mesinha com um monte do mesmo livro e uma plaquinha feita no Word escrita: “Vamos ler?”. Primeiro pensamento que me vem à cabeça é que aquele livro é do dono da farmácia, ele ta realizando o maior sonho da sua vida tendo o livro editado com o próprio dinheiro e colocou ele lá pra ver se vende alguma coisa. Achando que não tinha nada a perder, paro, pego e leio o resumo do best seller do nosso farmacêutico. Nem lembro o título, mas o livro falava de 6 cientistas que viviam debaixo da terra e a humanidade era dizimada por uma chuva de meteoros (que original não? Super verossímil) e estes 6 homens eram incubados de recriar um mundo com justiça e Deus no coração (sim, era uma estória apocalíptica evangélica).

Pensei comigo mesmo que aquele livro era um delírio gay (6 homens debaixo da terra tendo que sozinhos reconstruir o mundo após todo a sua destruição, sei nãããão...) e não uma Regenesis (lembreeeeei o nome do livro, tinha alguma coisa de Regenesis), mas fiquei na minha ate que o vendedor da farmácia repara que eu estou com o livro na mão, abre um sorriso enorme e com uma voz de quem se aproxima de um bebe de 1 ano diz, “gosta de ler jovem?”, e eu tomado por T.O.P.A. respondo no mesmo tom de Narcisa Tamborindeguy, “gosto, mas não esse livro”. Pago meu xarope e vou embora.

Ainda devo frisar que Rio Branco além de não ter Casas Bahia tem avenidas muito bem construídas com calçadas que em alguns pontos chegam a 30cm. Nesse exato ponto, tive a felicidade de uma senhora de aparentemente 110kg simplesmente parar com a cumadi para fofocar na hora que eu tava passando. O resultado desse episódio que encerrou meu feriado na rua fica a parte pra não chocar leitores mais conservadores.

É triste, mas como dizia Rob Gordon, “a humanidade não deu certo”.

O livro da Regenesis me fez lembrar que um dos temas da cultura pop que mais me fascina é a extinção humana em sua forma mais apocalíptica (não, eu não estou repensando que aquele livro seja bom). Estou lendo atualmente A Dança da Morte, considerado por muitos críticos, a melhor obra de Stephen King (embora eu prefira A Torre Negra). O livro de 1000 páginas conta a estória de um vírus da gripe mortal que é capaz de exterminar mais de 70% da população mundial. Mais que o fascínio da destruição e do recomeço da humanidade representado pela forma brilhante que só o King é capaz, o livro nos faz refletir sobre como nossos valores e conceitos de sociedade são baixos, ínfimos, ridículos e insignificantes quando comparados ao desconhecido. Afinal, do que adianta você tentar levantar sua carreira, economizar pra comprar o carro do ano, as roupas da moda, sair para lugares chics e impressionar os outros se, do nada, com uma única catástrofe que pode levar segundos, tudo isso não fizer mais sentido nenhum? O que te sobraria? Só “medo de um punhado de pó e um monte de imagens quebradas”, como diria o próprio King.

José Saramago escreveu o livro Ensaio Sobre a Cegueira, romance aclamado no mundo inteiro e que trás uma responsabilidade gigantesca a Fernando Meirelles que esta filmando a obra (Blindness). Na trama, um vírus deixa populações inteiras cegas, sem chances de cura. A civilização como a conhecemos decai totalmente pois, cegas, as pessoas só podem lutar por seus instintos. O livro vai além do de King por mostrar muito bem como o ser humano se coloca contra o ser humano. Pois além da destruição da humanidade (que acaba ocorrendo mais por ela mesma do que pelo vírus da cegueira), mostra o nosso lado mais desumano quando os infectados são colocados em quarentena em situações monstruosas. Porém, Saramago mostra justamente o caminho dos homens para se tornarem humanos em todo esse processo de destruição própria, pois mais do que olhar, o que importa é reparar no outro.

Também temos o fim da humanidade de forma apocalítica pela natureza. O Dia Depois de Amanhã é ate legalzinho, mas meio forçado, porém, o novo filme de Shyamalan , Fim dos Tempos parece ter tudo para ser grandioso, mostrando todo o mundo sucumbindo perante a fúria da natureza. Mais ao contrário de O Dia, Fim dos Tempos, como todo bom filme de Shyamalan, tem sua ameaça de forma invisível, tensa e perturbadora. Ainda há a aguardada volta de George Romero com aquele que parece ser um ótimo filme de zumbis misturado com A Bruxa de Blair, Diário dos Mortos.

Ah, só pra constar, Eu Sou a Lenda é uma grande merda. É um filme de catástrofe de 150 milhões de dólares que dá pra comparar com a trama dos 6 homens de Regenesis.

Bem, a humanidade pode ate não ter dado certo realmente, mas que realizou obras fantásticas, algumas que de tão ruins soam ate boas, ah se realizou.

sábado, 5 de abril de 2008

Se A Vida Fosse Um Musical Você Estaria Com Os Pés Sangrando Ou Com A Garganta Inflamada?

Aí eu tava sem nada pra fazer e, entre passar o fim de semana no Rio de Janeiro e contrair uma pneumonia, eu resolvi contrair uma pneumonia. Afinal, por que diaxos eu iria passar um final de semana em Copacabana, curtindo um pouco a praia, dando um pulinho na LeBoy, tomando água de coco e vendo gente bonita, se no fim das contas eu poderia contrair dengue, sendo que de quebra eu voltaria pro Acre e não teria que me medicar naquelas tendas super fashion do exército e sim num posto de saúde, quando eu posso pegar uma bela pneumonia no próprio leito do meu lar?

Aliás, depois de bancar tanto o menino teimoso, reconsiderei e finalmente resolvi me cuidar bem ate finalmente estar pleno em saúde. Logo, preso em casa mais uma vez por motivo expectorante, voltei a opção de assistir muitos filmes. Então eu resolvo sair um pouco da rotina e vou na locadora ver se tem algo que presta por lá ao invés de ficar baixando filmes alternativos pela internet (sim, eu sei, é feio, mas releva, eu to no Acre, aqui só tem duas salas de cinema comerciais e eu não baixo filmes que eu possa encontrar em DVD, tento ser politicamente correto). Já dentro da locadora eu me pergunto por que foi mesmo que eu entrei lá. Não fazia sentido. Só tinha um monte de filme ruim a disposição, que custavam 6 pilas a diária, geralmente muito bem arranhados, sendo que na calçada em frente ao Banco do Brasil bem pertinho dali, tem um cara que vende a 5 reais o filme, 4 reais sem a capinha. Além do ótimo atendimento que só uma locadora comercial é capaz de dar, se eu perguntar “Moça, tem algum filme do Wolfgang Becker?”, o máximo que ela vai me responder vai ser “Saúde!”. As locadoras de filmes são algo que definitivamente não fazem mais sentido.

Ainda assim saio com um filme de lá nas mãos, o musical Hairspray. Pára, volta a fita e presta atenção na afirmação: Eu aluguei um musical. Eu, que acho musicais a pior perda de tempo do cinema, paguei 6 reais por um. Deus, só pode ter sido a febre, o vírus da pneumonia, esse desgraçado que além de tomar conta do meu pulmão, cai na minha corrente sanguínea e afeta meu cérebro. Só pode! Tanto que eu esqueci de assistir o filme. Só lembrei no fim da tarde do dia seguinte, quando eu correndo liguei o DVD e sentei pra assistir porque afinal de contas 6 reais são 6 reais e eu não ia dar o gostinho de ver aquela locadora sugando meu dinheiro sem eu nem mesmo assistir o filme.

Hairspray começa com a gordíssima (porém, fofa) Tracy Turnblad declarando seu amor por Baltimore (nos anos 60), numa musica em que ela esbanja alegria e sorrisos enquanto acorda, vai para a escola e volta as pressas para casa a tempo de assistir seu programa de TV favorito. Pensa comigo: qual é o filme americano em que uma adolescente gorda já começa a história muito feliz? Nenhum! Hairspray não é só um musical, é uma paródia de musicais e os estúpidos teenmovies do tipo American Pie. Mais que isso, Hairspray tem um começo delicioso, contagiante e incrivelmente divertido. Eu estava adorando, até que das trevas surgiu ele, (eu mal consigo escrever o nome dele nesse blog, os dedos tremem) Zach Efron. Surtei! “OH MEU DEUS, EU TO GOSTANDO DE UM FILME PROTAGONIZADO PELO VIADINHO DE HIGH SCHOOL MUSICAL?”

É, foi um momento duro que eu tive que reformular meus conceitos de cinema de entretenimento. No fim das contas Hairspray é realmente divertido e funciona muito bem como paródia e crítica, mas não consegue se sustentar. O começo é muito bom, mas logo começa a cansar (salvando pelos momentos em que Jhon Travolta aparece como a mãe obesa de Tracy), o ritmo se perde (irônico pra um musical, não?) e só consegue refazer aquele impacto do começo nos momentos finais, mesmo apresentando uma série de clichês cinematográficos, a coitadinha que vence, a gostosona que se da mal, a mocinha fica com o mocinho, um amor inter-racial pego emprestado de Duas Caras, essas coisas. O destaque vai para atuações impecáveis e altamente inusitadas de John Travolta (impagável), Christopher Walken, Michelle Pfeiffer e Queen Latifah.

Além disso, há pouco tempo, assisti um “verdadeiro” musical, o muito comentado em festivais de cinema alternativo, Across the Universe. O filme de Julie Taymor parte da premissa de contar duas histórias que se entrelaçam, uma de amor (bocejo) e a outra da louca geração jovem dos anos 60 (de novo) que gritava nas ruas de Washington por paz e amor e “não a Guerra do Vietnã”. O romance gira em torno de Jude, um rapaz que sai de Liverpol para ir para os EUA, que se apaixona por Lucy, uma jovem revolucionária, cujo irmão vai para guerra contra a própria vontade. Em meio a isso, temos os negros colocando fogo nas ruas de Nova York, o movimento gay começando a sair do armário, além de sexo, drogas (a maconha mais parece LSD, gerando efeitos alucinógenos) e The Beatles. Pois todo o musical de Across the Universe é feito de 33 regravações dos Beatles. Perfeito, não? Errado! Com tudo isso, Across the Universe consegue ser uma grande merda.
Across the Universe: o baseado com certeza tava estragado

As letras dos Beatles não fazem sentido no filme. A cultura de massa considera os Beatles tudo, menos revolução, hoje em dia pode-se escutar I Want You bocejando. Não existe mais revolução, muito menos rebeldes com causa. Junte tudo isso a um roteiro muito furado, uma edição ridícula, a pretensão da diretora e Across the Universe afunda de vez. Porém, vale uma ressalva, as regravações das musicas dos Beatles pelos atores ficaram maravilhosas, com imenso destaque para I Want to Hold Your Hand, Strawberry Fields Forever, All You Need is Love e a própria Across the Universe.

Assim, eu sinceramente havia perdido as esperanças com musicais. Ate ter assistido Les Chansons d’Amour. E bem, depois de cinco minutos após o término do filme, chego a conclusão de que Cristophe Honoré é um filho da puta, só que no bom sentido. Eu já havia assistido Dans Paris (não musical) e não me sinto mal em admitir que este filme me fez descer lágrimas pesadíssimas pelo rosto. Nessas duas obras dele(que eu me recuso a chamar de geniais porque ainda nao assisti Ma Mère), Honoré enfatiza de uma forma que choca por ser tão introspectiva e ao mesmo tempo real, a dor e o recomeço. Mais precisamente em Dans Paris temos de uma forma excepcional todas as sensações do começo e do fim do amor, enquanto em Les Chansons d’Amour temos a complexidade do sentimento e a forma de se lidar com a dor.

Não gostaria de falar da trama de Les Chansons d’Amour, pois não importa o quanto eu a exalte, vai lhe parecer simples. Temos um triângulo amoroso de jovens (Ismael, Julie e Alice), que se desfaz com a morte de Julie, o verdadeiro amor de Ismael. Logo, o filme passa a tratar da perda amorosa. Ismael vagueia sozinho em sua dor e em sua forma própria de lidar com ela, e acredite quando eu digo, é quase impossível não mergulhar junto com Ismael (o muito talentoso Louis Garrel) em seu sofrimento, exatamente por retratar tão bem como nos sentimos a perda de um amor. Ate que o sofrimento romântico de Ismael vai de encontro a um novo personagem, que lhe mostrará um recomeço e um outro caminho, sem precisar se desprender daquilo que ele já sentiu e viveu.
Les Chansons d'Amour: qual a sua maneira de lidar com a dor e o amor?

O musical remete a um material musical pré-existente: as canções escritas por Alex Beaupain. Mas diferente de quase todos os musicais da história, Les Chansons d’Amour não possue dança ou coreografias. As interpretações musicais são sentidas ao mais pequeno diálogo. Assim, talvez ao ponto de nem mesmo poder ser chamado de um musical, Les Chansons d’Amour consegue ser único.

PS.: Um agradecimento muito especial ao Frederico Blahnik por mais um selo que fica ali ao lado e que eu repasso para o Thiago da Hora