quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Assassino Da Esquizofrenia, O Assassino Do Cinema E O Assassino Do Amor

Porque dificilmente você consegue confiar em pessoas felizes.
Não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

Quando eu era mais jovem (e aos 20 anos eu to entrando na menopausa?), eu tinha devaneios freqüentes. É um problema sério quando se tem uma imaginação muito fértil. Você pode se perder nos seus devaneios e virar um esquizofrênico. Ou artista. Ou gênio. Ou um daqueles loucos que vão em shows de rock de garagem, usam roupas rasgadas, são considerados mendigos, fedem e viram lendas urbanas, histórias para aterrorizar criancinhas. Enfim, eu mergulhava em meus devaneios e me perdia da realidade. Eu adorava. Acreditar que você não é você é um dos melhores dons que Deus deu ao ser humano.

Um dos meus devaneios favoritos era o de ser cantor de rock. Ou melhor, musica eletrônica. Eu me tornava um tipo de Madonna de calça jeans, mas sendo comparado a ela apenas pelo nível astronômico de sucesso e grana. Seria um difusor da cultura de “não importa o som, o estilo ou a batida, para ser musica, você precisar sentir a necessidade de dançar”. E com CD’s explosivos e polêmicos por serem extremamente pop’s e sem nenhuma fidelidade de estilo, eu contaminaria o mundo com essa idéia.

Aquele que nunca sonhou em ser uma lenda do rock que atire a primeira pedra.

Você inspira esses delírios próprios baseando-se em seus ídolos. Não, eu não gosto de Madonna. Eu tava assistindo I’m Not There (Não Estou Lá no Brasil). E não tem como não se fascinar pelo filme, se envolver, querer fazer parte de um dos seis mundo de Bob Dylan na incrível e viajada visão de Todd Haynes. Não tem como não desejar ser um daqueles seis mundos. Eu particularmente queria ser Jude, o Bob Dylan interpretado magistralmente por Cate Blanchentt. O Bob Dylan com ar sempre chapado, com um mundo levantando seu ego, com liberdade para ser foda, com um Ray Ban Wayfarer (um sonho de consumo)lindo e original sempre na cara. Londres, um carro grande e caro, sucesso mundial, grana e Beatles como seu fã.

Bob Dylan já pode morrer feliz.
Todd Haynes ainda deve produzir mais uns 4 filmes parecidos e melhores pra me satisfazer e depois eu deixar ele morrer.

E a Dercy Golçaves também morreu.

Dercy: o Coringa de saias e sem ser psicótica serial killer

Eu não sei vocês, mas eu já estava habituado a idéia de que ela era imortal. Eu não via ela morrendo.

Eu geralmente odeio cinebiografias, mas aquelas que o Todd Haynes produziu me fazem amar cinema e musica como uma coisa só, como se um não pudesse se desprender do outro. Musica pra mim não é só som, tem que estar veiculada a imagem. Toddy Haynes foi além, com Velvet Goldmine (sua glamurosa e absurdamente fascinante obra sobre uma fase de David Bowie) e I’m Not There ele mais que conquistou um seguidor, ele aumentou meu problemas com delírios.

Diferente de Control (Controle – A História de Ian Curtis no Brasil). Um lixo, um dos filmes mais chatos que eu assisti. Não conheço a história do Joy Division, gosto de uma única musica do New Order, aliás prefiro a regravação de Bizarre Love Triangle na voz do Frente!, e o Ian Curtis então se tivesse vivo e passasse por mim na rua ia se sentir ofendido por não ter o pedido de um autógrafo pelo simples fato de que eu não o conheço. Enfim, se fosse analisar profundamente, Control não passa da história de um cara que queria o sucesso acima de tudo, mais pelo status do que por reconhecimento, doente (tadinho, sofria de epilepsia) e hétero com tendências emo, frouxo, covarde, inseguro e que não sabe tratar dos sentimentos de uma mulher, precisando de duas pra ter um pouco de ego, não dando valor ao caráter famíliar e se matando no fim das contas.

Ok, peguei pesado.

Espero que Joy Division, e principalmente o Ian, não sejam aquilo que fora mostrado na tela. Numa cinebiografia os fãs querem ver retratados os mistérios e lendas de seus ídolos, não o óbvio, o banal, tudo aquilo que você já sabe. É, parece que só o Todd Haynes sabe fazer isso.

E no (único) cinema da minha cidade ta passando o Batman dublado.
Vou alimentar a pirataria e baixar quando tiver versão em Hight Definition.

Larga o cinema e vai ler um livro.

Tava lendo Era Uma Vez o Amor, Mas Tive que Matá-lo, de Efraim Medina. Nunca pensei que ia ler um colombiano na vida. Acho os colombianos parecidos com os bolivianos (sim, eu sou xenofóbico) e lá o pessoal tem violência e seqüestro por causa de cocaína (ok, o Brasil não é diferente). Enfim, o livro é indescritível, mas é viajante, eu me encontrei na maioria das páginas, meus pensamentos, meus momentos. Uma dose de introspectividade surpreendente numa leitura de nível sem quase nenhuma narrativa. Não tem trama específica, fala sobre frustrações dos sonhos. De como a vida pode ser uma merda e você ainda consegue piorar tudo.

Porque às vezes fazemos questão de matar o amor.
Porque geralmente matamos o amor quando ele menos merece ser morto e você se torna um filho da puta a lamentar isso pro resto da sua vida.

Santiago Nazarian ganhou um concorrente na minha vida, Efraim Medina. A diferença é que o Medina não tem blog, Nazarian tem, e eu viajo nele de grátis a cada texto. E eu ainda não li Técnicas de Masturbação Entre Batman e Robin, segundo romance de Medina no Brasil. Melhor que os textos loucamente introspectivos, só esses títulos mesmo.

Queria algo com zumbis. Um filme bom de preferência. Dizem que o Bruce laBruce fez um filme com zumbis que também é existencialista e pornô. To louco pra assistir. Devaneios de zumbis eu não tenho. Só em sonhos. Aliás, houve um tempo em que meus sonhos variavam entre duas coisas, hordas de zumbis canibais e meu trabalho no hospital. Os sonhos em que eu trabalhava no hospital eram os pesadelos. Os zumbis sempre eram divertidos.

E pessoas felizes não são confiáveis porque não são introspectivas.
Não foi uma afirmação, é um fato.