sábado, 5 de abril de 2008

Se A Vida Fosse Um Musical Você Estaria Com Os Pés Sangrando Ou Com A Garganta Inflamada?

Aí eu tava sem nada pra fazer e, entre passar o fim de semana no Rio de Janeiro e contrair uma pneumonia, eu resolvi contrair uma pneumonia. Afinal, por que diaxos eu iria passar um final de semana em Copacabana, curtindo um pouco a praia, dando um pulinho na LeBoy, tomando água de coco e vendo gente bonita, se no fim das contas eu poderia contrair dengue, sendo que de quebra eu voltaria pro Acre e não teria que me medicar naquelas tendas super fashion do exército e sim num posto de saúde, quando eu posso pegar uma bela pneumonia no próprio leito do meu lar?

Aliás, depois de bancar tanto o menino teimoso, reconsiderei e finalmente resolvi me cuidar bem ate finalmente estar pleno em saúde. Logo, preso em casa mais uma vez por motivo expectorante, voltei a opção de assistir muitos filmes. Então eu resolvo sair um pouco da rotina e vou na locadora ver se tem algo que presta por lá ao invés de ficar baixando filmes alternativos pela internet (sim, eu sei, é feio, mas releva, eu to no Acre, aqui só tem duas salas de cinema comerciais e eu não baixo filmes que eu possa encontrar em DVD, tento ser politicamente correto). Já dentro da locadora eu me pergunto por que foi mesmo que eu entrei lá. Não fazia sentido. Só tinha um monte de filme ruim a disposição, que custavam 6 pilas a diária, geralmente muito bem arranhados, sendo que na calçada em frente ao Banco do Brasil bem pertinho dali, tem um cara que vende a 5 reais o filme, 4 reais sem a capinha. Além do ótimo atendimento que só uma locadora comercial é capaz de dar, se eu perguntar “Moça, tem algum filme do Wolfgang Becker?”, o máximo que ela vai me responder vai ser “Saúde!”. As locadoras de filmes são algo que definitivamente não fazem mais sentido.

Ainda assim saio com um filme de lá nas mãos, o musical Hairspray. Pára, volta a fita e presta atenção na afirmação: Eu aluguei um musical. Eu, que acho musicais a pior perda de tempo do cinema, paguei 6 reais por um. Deus, só pode ter sido a febre, o vírus da pneumonia, esse desgraçado que além de tomar conta do meu pulmão, cai na minha corrente sanguínea e afeta meu cérebro. Só pode! Tanto que eu esqueci de assistir o filme. Só lembrei no fim da tarde do dia seguinte, quando eu correndo liguei o DVD e sentei pra assistir porque afinal de contas 6 reais são 6 reais e eu não ia dar o gostinho de ver aquela locadora sugando meu dinheiro sem eu nem mesmo assistir o filme.

Hairspray começa com a gordíssima (porém, fofa) Tracy Turnblad declarando seu amor por Baltimore (nos anos 60), numa musica em que ela esbanja alegria e sorrisos enquanto acorda, vai para a escola e volta as pressas para casa a tempo de assistir seu programa de TV favorito. Pensa comigo: qual é o filme americano em que uma adolescente gorda já começa a história muito feliz? Nenhum! Hairspray não é só um musical, é uma paródia de musicais e os estúpidos teenmovies do tipo American Pie. Mais que isso, Hairspray tem um começo delicioso, contagiante e incrivelmente divertido. Eu estava adorando, até que das trevas surgiu ele, (eu mal consigo escrever o nome dele nesse blog, os dedos tremem) Zach Efron. Surtei! “OH MEU DEUS, EU TO GOSTANDO DE UM FILME PROTAGONIZADO PELO VIADINHO DE HIGH SCHOOL MUSICAL?”

É, foi um momento duro que eu tive que reformular meus conceitos de cinema de entretenimento. No fim das contas Hairspray é realmente divertido e funciona muito bem como paródia e crítica, mas não consegue se sustentar. O começo é muito bom, mas logo começa a cansar (salvando pelos momentos em que Jhon Travolta aparece como a mãe obesa de Tracy), o ritmo se perde (irônico pra um musical, não?) e só consegue refazer aquele impacto do começo nos momentos finais, mesmo apresentando uma série de clichês cinematográficos, a coitadinha que vence, a gostosona que se da mal, a mocinha fica com o mocinho, um amor inter-racial pego emprestado de Duas Caras, essas coisas. O destaque vai para atuações impecáveis e altamente inusitadas de John Travolta (impagável), Christopher Walken, Michelle Pfeiffer e Queen Latifah.

Além disso, há pouco tempo, assisti um “verdadeiro” musical, o muito comentado em festivais de cinema alternativo, Across the Universe. O filme de Julie Taymor parte da premissa de contar duas histórias que se entrelaçam, uma de amor (bocejo) e a outra da louca geração jovem dos anos 60 (de novo) que gritava nas ruas de Washington por paz e amor e “não a Guerra do Vietnã”. O romance gira em torno de Jude, um rapaz que sai de Liverpol para ir para os EUA, que se apaixona por Lucy, uma jovem revolucionária, cujo irmão vai para guerra contra a própria vontade. Em meio a isso, temos os negros colocando fogo nas ruas de Nova York, o movimento gay começando a sair do armário, além de sexo, drogas (a maconha mais parece LSD, gerando efeitos alucinógenos) e The Beatles. Pois todo o musical de Across the Universe é feito de 33 regravações dos Beatles. Perfeito, não? Errado! Com tudo isso, Across the Universe consegue ser uma grande merda.
Across the Universe: o baseado com certeza tava estragado

As letras dos Beatles não fazem sentido no filme. A cultura de massa considera os Beatles tudo, menos revolução, hoje em dia pode-se escutar I Want You bocejando. Não existe mais revolução, muito menos rebeldes com causa. Junte tudo isso a um roteiro muito furado, uma edição ridícula, a pretensão da diretora e Across the Universe afunda de vez. Porém, vale uma ressalva, as regravações das musicas dos Beatles pelos atores ficaram maravilhosas, com imenso destaque para I Want to Hold Your Hand, Strawberry Fields Forever, All You Need is Love e a própria Across the Universe.

Assim, eu sinceramente havia perdido as esperanças com musicais. Ate ter assistido Les Chansons d’Amour. E bem, depois de cinco minutos após o término do filme, chego a conclusão de que Cristophe Honoré é um filho da puta, só que no bom sentido. Eu já havia assistido Dans Paris (não musical) e não me sinto mal em admitir que este filme me fez descer lágrimas pesadíssimas pelo rosto. Nessas duas obras dele(que eu me recuso a chamar de geniais porque ainda nao assisti Ma Mère), Honoré enfatiza de uma forma que choca por ser tão introspectiva e ao mesmo tempo real, a dor e o recomeço. Mais precisamente em Dans Paris temos de uma forma excepcional todas as sensações do começo e do fim do amor, enquanto em Les Chansons d’Amour temos a complexidade do sentimento e a forma de se lidar com a dor.

Não gostaria de falar da trama de Les Chansons d’Amour, pois não importa o quanto eu a exalte, vai lhe parecer simples. Temos um triângulo amoroso de jovens (Ismael, Julie e Alice), que se desfaz com a morte de Julie, o verdadeiro amor de Ismael. Logo, o filme passa a tratar da perda amorosa. Ismael vagueia sozinho em sua dor e em sua forma própria de lidar com ela, e acredite quando eu digo, é quase impossível não mergulhar junto com Ismael (o muito talentoso Louis Garrel) em seu sofrimento, exatamente por retratar tão bem como nos sentimos a perda de um amor. Ate que o sofrimento romântico de Ismael vai de encontro a um novo personagem, que lhe mostrará um recomeço e um outro caminho, sem precisar se desprender daquilo que ele já sentiu e viveu.
Les Chansons d'Amour: qual a sua maneira de lidar com a dor e o amor?

O musical remete a um material musical pré-existente: as canções escritas por Alex Beaupain. Mas diferente de quase todos os musicais da história, Les Chansons d’Amour não possue dança ou coreografias. As interpretações musicais são sentidas ao mais pequeno diálogo. Assim, talvez ao ponto de nem mesmo poder ser chamado de um musical, Les Chansons d’Amour consegue ser único.

PS.: Um agradecimento muito especial ao Frederico Blahnik por mais um selo que fica ali ao lado e que eu repasso para o Thiago da Hora

9 comentários:

Thiago da Hora disse...

o rafa e o fábio foram no fim do ano passado na leboy... e apenas lembro que eles sentiram um certo nojo e repúdio por aquele lugar... aaacho que não é muito legal de se frequentar... HAHAHAHA

continue assim, baixa pela internet apenas filmes e músicas que não estejam disponíveis no brasil. seja cidadão! HAHAHAHA

opa! filme com zach efron??? acho que sei o que assistirei durante a semana... XD

e passar um filme inteiro ouvindo beatles caaansa! nem faço questão de assistir esse filme. grato!

Veriana Ribeiro disse...

eu não sou muito fã de musicais (culpe moulin rouge e a Rayza por isso), mas esse ano eu estava com muita vontade de ver Across the Universe e Sweeney Todd. E adimito, com todo os comentarios sobre Hairspray e John Travolta, eu fiquei um pouco curiosa (mas o Zac efron ainda é um GANDE motivo para me fazer não alugar o dvd).

Aqui você acabou com a esperança de um filme. Agora duas pessoas já me disseram que Across é ruim, isso contra uma critica boa na SET, mas ainda quero ver (só pela linda fotografia... e ta, as musicas dos Beatles).

Faland nos garotos de Liverpoll, sinto que fãs fervorosos vão apedreja-lo no meio da rua. Eu acho que eles marcaram e revolucionaram a musica, porque fizeram diferente do que tinha na epoca, mas isso são pontos de vista.

Fiquei com vontade de ver esses filmes...Les Chansons d’Amour w Dans Paris (morro de vontade a tempos de ver esse).

O que mais?

Ah é. Tu me achou triste no outro dia, foi? Não entendi... Bom, como desculpa posso dizer que não estava triste, só um pouco cansada. (E levei um bolo, mas sinceramente nem me importei muito. Tava tendo uma tarde agradavel.)

Ganheium novo livro do Calvin, lembrei de tu.
Beijos

Frederico Oliveira disse...

Se a vida fosse um musical eu estaria não somente com os pés sangrando e a garganta inflamada, eu estaria com garganta e pés inflamados e sangrando pq tu sabe que eu sofro perseguição da lei de murphy...
Eu tava lendo aqui o teu texto sobre esse lance de ir a locadora pra pegar uns filmes e eu percebi que num faço isso a pelo menos uns 3 anos... eu faço download de tudo. Nem lembro mais a senha q eu uso na locadora! Quanto aos filme musicais eu gosto tbm... sou suspeito pra falar mal de filme musical! Tenho todos os cd's dos Beatles e adoro cinema europeu... então pela primeira vez li um post teu do começo ao fim!
Menino, depois eu te empresto um filme italiano dos anos 90 chamado "O Maldito Creme de Celulite" preciso da tua opinião...
Qnt ao selo vc merece!
E vê se melhora pra gente poder viajar!
E como a gente é fino (as vezes pra variar um pouco a gente se joga na bagaça) a gente tem q ir a LeBoy... quem sabe a gente até volta pro Acre com um Mugshot de final de semana... hahahah...
See you...

Anônimo disse...

Olá! Obrigada pelos elogios, hehe. Eu moro no Rio, mas veja, a falta de sorte não escolhe região, rs, escolhe os fuleiros como eu. =)

Beijos!

Juliana Velico disse...

Um blog aqui, outro ali e cheguei ao seu, adorei seus posts, a maneira como escreve e o que escreve.
E por isso estarei te linkando ao meu humilde blog pessoal.. nada assim do seu gabarito..rss Não se empolgue..rss

Já assistiu o Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street???
Musical apaixonante pq não é feliz.. e sim sinistro..rsss
Até hoje os únicos músicais que assisti e gostei foram Hair e agora esse Sweeny Todd, vou assistir aos que você recomenda (ou não) no seu post

Tenha uma ótima semana!!
Juliana

Nando Damázio disse...

Bem, eu fui uma vez na LeBoy pra nunca mais !! ;p
Também não aconselho o Rio como um bom local pra passear, atualmente, a situação aqui tá braba ..

Bem que você disse lá no meu blog que é cinéfilo, aliás, de muito bom gosto ..

Obrigado pela visita e desculpe a demora em retornar, tava sem tempo mas já dei jeito nisso, virei aqui mais vezes ..
Abraço !!

MatheusS disse...

Eu não posso dizer que sou fã de musicais.. não gosto mesmo. Mas nesse momento me sinto um lerdo, pois o filme que eu mais gosto é justamente um musical: Chicago. Vai entender né..

Esses outros eu não assisti, tampouco me interessei.. mas enfim o/

Keth disse...

Amor.. não tinha comentado pq não tenho toda essa propriedade pra falar de filmes... e não gosto de musicais, portanto, não devo fazer análises mais aprofundadas...

Assista Meu Nome Não É Jhonny... eu adorei!!! a única parte musical é qdo o Selton Mello (numa excelente atuação) canta uma música do Roberto Carlos

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

tá bom!!! forcei agora, não foi?????

=*

p.s.: pensamento do dia: "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal.Amém!"
=P

Sol! disse...

Meu, pára de se estragar caralho!

Vc é a única pessoa que eu "conheço" qu teve duas pneumonias dentro de seis meses!

PORRA!

Vem pra São Paulo cara, o ar puro do Acre tá te zoando kkkk

Sobre músicais, quero fazer um... Mas só seu for a mocinha hahahaha
bjossss