terça-feira, 16 de agosto de 2011
Entre o fruto da vida e o do conhecimento
Fui acometido bem recentemente por algum tipo de doença que definitivamente só poderia: a)virar um episódio de House, ou b)um episódio (sim, eu ando assistindo bastante séries) daquele Doenças Desconhecidas (eu acho que é esse o nome). Sem querer ser melodramático, mesmo porque eu sou extremamente orgulhoso, foi um período bem difícil, que se assemelhou aos dois momentos em que tive que realizar cirurgias toráxicas.
De fato, foram exatos 29 dias de absurda dor crônica, idas e vindas aos hospitais, as clínicas, exames de alta e baixa complexidade, lágrimas em excesso e no fim, quando as coisas começaram a melhorar, não foi porque a doença foi detectada ou comecei algum tratamento certeiro, mas porque as coisas sozinhas resolveram “se ajeitar”. Junte isso a um hipermetabolismo ferrenho e em pouco menos de um mês e meio, perdi sagrados 6kg.
E para um cara vaidoso e assumidamente vendido a ditadura da beleza, minha auto estima caiu pra zero em uma velocidade gigantesca. Mais do que minha saúde, a doença (seja ela qual for) levou meu bem estar mental. E levando em consideração que eu sou praticante de fitness (embora não pareça), esse golpe foi ainda mais doloroso, pois foi ver um trabalho de desenvolvimento físico de mais de dois anos jogado pelo ralo. E por causa disso, a cabeça ficou vazia, e a oficina do diabo começou a funcionar. Mergulhei em puro abatimento e só através de um longo processo que estou realmente saindo disso.
Fazendo parte desse momento que passo, o vídeo abaixo é de longe o mais emocionante que eu assisti na vida desde a fundação da era Youtube. Eu recomendaria assisti-lo.
O Universo Conhecido é o mapa mais preciso de dimensões do nosso universo (é impossível realizar observações telescópicas pelas laterais da nossa galáxia, dai a forma de ampulheta). A animação feita pelo Museu Natural de História Americana revela que nosso planeta é apenas uma poeira cósmica perto da grandeza de um universo finito, mas em eterna expansão. É magnifico sair da Terra e poder chegar até os quasares (os mais distantes objetos dentro do universo), e de fato, essa viagem possivelmente nunca será possível.
O vídeo, mais do que fascinante, é reflexivo. Se o universo é tão infinitamente gigantesco, qual o papel de nossas existências dentro dele?
O anime japonês Cavaleiros do Zodíaco, um dos maiores sucessos pops dos anos 90, tem um personagem que reflete acerca disso. O cavaleiro da casa de ouro, Shaka de Virgem, antes de sua morte questiona, “As flores nascem, depois murcham. As estrelas brilham, mas algum dia se extinguem. Esta terra, o sol e ate mesmo o grande universo, algum dia serão destruídos. Comparado a isto, a vida do homem não passa de um simples piscar de olhos de Deus. Nesse pouco tempo, as pessoas nascem, riem, choram, lutam, são feridas, sentem alegria, tristeza, odeiam alguém, amam alguém... Tudo em um só momento. E depois são abraçadas por um sono eterno chamado: morte”.
Sou um grande apaixonado pela astrofísica. Queria ter talento para a coisa, mas definitivamente não foi o que aconteceu, então virei jornalista, outra paixão. Por isso junto essa admiração pelo universo e os questionamentos que surgem ao contemplá-lo, e por natureza da humanidade, meu maior desejo e chegar aos seus limites, os limites do cosmo e os limites da vida e da morte.
Sim, porque a morte assusta até o mais devoto crente acerca do paraíso da eternidade.
E é disso que trata justamente um dos filmes mais incríveis de toda minha vida de cinéfilo, Fonte da Vida, que eu particularmente considero a obra máxima de Darren Aronofsky, antes dele se tornar o popzinho do momento por causa do drama Cisne Negro. Diferente dos romances e filmes padrões, esse deve ser evitado principalmente por aqueles que gostam de ter todas as respostas de um filme e, principalmente, não conseguem se sentir confortáveis acerca de questionar sua própria existência, uma capacidade única apenas do cinema de excelente qualidade.
Na trama, Hugh Jackman (na melhor atuação de sua carreira) é Tommy Creo, um cientista que está em busca da cura do câncer. A beira de um colapso, a descoberta é urgente e de questão pessoal, já que Izzi (Rachel Weisz, talentosíssima e tão bela, que enche a tela de luz), sua esposa, esta morrendo com um tumor cerebral. A chance de sucesso em seus primatas experimentais chega justamente quando sua equipe experimenta a amostra de uma árvore singular das selvas do Peru. A planta pode ser a cura que ele tanto busca, porém, se revela mais do que isso. Numa outra parte, Izzi escreve um livro sobre um conquistador (também interpretado por Jackman) que viaja para o Novo Mundo em busca da Árvore da Vida a pedido da rainha Isabel (também interpretada por Weisz). A terceira parte da história (e particularmente a mais brilhante representação artística do universo já feita) é passada no futuro, quando o cientista (ainda Jackman) viaja pelo espaço em uma bolha com um único objetivo: conquistar a vida eterna.
Complicado? Muito! Juntar o quebra cabeça que é Fonte da Vida não é tarefa das mais simples. Mas se entregar ao filme é uma experiência sem tamanho. A emoção transborda, a beleza invade e questionamentos propositalmente vagos ficam em nossa cabeça. Apenas o presente esta acontecendo, o passado e o futuro da trama são metafóricos e existem pra preencher lacunas e nos enlouquecer, pois no fim, as três realmente podem ter uma linearidade, e a poesia do filme existe justamente em nos dar essa opção e ao mesmo tempo nos tirá-la, enquanto sorri e diz: “Peguei você”.
É o amor que move o filme inteiro. E o medo. É o amor que move Tommy por Izzi, além do medo de perdê-la, o medo de não ter mais sentido em sua vida, e o medo de não poder superar a morte. “A morte é apenas uma doença, e como qualquer doença, tem uma cura”, grita Tommy em seu mais profundo desespero. É a Árvore da Vida a cura, a mesma árvore que Deus colocou um anjo protegendo depois que expulsou Adão e Eva do Paraíso por terem comido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
No fim, Tommy acredita que é a Árvore da Vida a ponte para a resolução de seu grande desafio. Mas é então que ele se vê mais uma vez questionado, assim como Adão e Eva, de experimentar o fruto proibido, o fruto do conhecimento.
Sim, porque Deus disse para comermos apenas do fruto da Árvore da Vida para assim sermos imortais e nos proibiu do fruto da Árvore do Conhecimento. Mas é quando somos confrontados sobre a nossa própria existência e o significado da vida e da morte dentro de um Universo que nunca conheceremos por inteiro, que notamos que realmente, tanto faz se fossemos Adão ou Eva, essa desobediência, teria que acontecer sim um dia.
Pois assim como toda essa história, talvez a vida não passe de uma grande metáfora do próprio universo.
Assinar:
Postagens (Atom)