Hoje eu quase não deito no sofá da minha casa, aliás, eu não lembro qual foi a última vez que eu parei pra deitar no sofá e assistir TV. Eu era viciado nisso quando era criança. O meu avô dizia que todo sofá que passava lá por casa ficava com as marcas das minhas costas e da minha bunda depois de alguns meses de uso (sim, eu tenho 1,80m, cerca de 60kg, mas eu tenho bunda, ok?). E se tem uma coisa que eu sempre lembro que era caótica lá em casa era a briga pelo canal de TV, principalmente quando eu e meu irmão estávamos cada um estirado num sofá de casa. Meu irmão era tão bandido que mesmo menor que eu, as vezes ficava no sofá grande só pra não me ver nele e eu ficava no menorzinho com os pés flutuando do lado de fora.
Porém, contudo, todavia, se tinha um canal que todo mundo parava lá em casa na hora do almoço, esse canal era o SBT, na sessão Cinema em Casa. Foi nele que eu aprendi que A Lagoa Azul era um filme que se repetia 1 vez por semana e que o Freddy Krueger era um filme que podia deixar as crianças sem dormir a noite passando ao meio dia. Depois inventaram a tal de portaria com censura de idade e fudeu a alegria de quem foi criança no começo dos anos 90.

Aliás, foi com o Cinema em Casa que eu virei fã/tiete/paga-pau de dois tipos de filmes, os de zumbi (meu Deus, passava A Volta dos Mortos Vivos 2 enquanto eu comia arroz com feijão) e os de monstros gigantes. Alguém aqui se lembra do Alligator? Gente, pára tudo e presta atenção: um jacaré gigante se esconde no esgoto de Chicago, piscinas e caixas d’agua de 10.000litros, vira celebridade nacional, se alimenta de cachorros radioativos, depois de seres humanos, invade a festa do prefeito durante o dia, faz maior barraco, banca a Lady Kate e mostra quem é que assina o cheque, come o prefeito na festa e ainda assim consegue ser um bom (eu diria ótimo) filme? Caralho, só podia ser coisa dos anos 80 mesmo. Não tem como não amar o tosco no cinema.
De certo modo, Alligator não é tão tosco não. As cenas do animal aparecendo e fazendo carnificina são muito boas, mesmo quando você percebe que tem um jacaré de verdade andando num cenário de miniatura. O roteiro é interessante, já que o jacaré só cresce devido a uma rede de intrigas onde se misturam homens gananciosos, políticos corruptos e... cachorros radioativos (ok, cachorros com hormônios de crescimento, mas radioativos soam melhores). Então, o verdadeiro vilão de Alligator não é o jacaré, é o homem. O Alligator só quer viver a vida dele normalmente, comer homens toscos gordos e nadar de boa nos esgotos. Mas ai ele vira celebridade, aparece o senador...
Infelizmente, nem só de bons filmes vivem os monstros gigantes. Você já assistiu uma das mil reprises de O Ataque das Formigas Gigantes? Tem uma cena em especial em mais esse clássico do Cinema em Casa na qual as formigas andam por um cais, invadem um iate (?) e matam todo mundo a bordo. Pergunta que não quer calar: por que as porras das formigas gigantes invadem um iate em alto mar só pra matar gente? Foi muito ácido na cabeça desse roteirista, muito ácido mesmo.
Porém, melhor que o Alligator, mais perigoso que o Tubarão de Steven Spilberg e viciante igual O Monstro do Armário (tosco, tosco e mais tosco), está A Invasão das Aranhas Gigantes. Confesso que fico tão emocionado em falar desse filme que nem consigo falar dele mesmo, então, coloca pra carregar o trailer ai que ele fala por si só (e fala até demais).
Pra vocês terem uma idéia da bagaceira, a aranha gigante, era um fusca camuflado com pelúcia (sim, era uma aranha gigante de pelúcia), e os faróis do fusca em questão eram os olhos do bicho. Reparem que: AS PATAS DA ARANHA NÃO TOCAM NO CHÃO. Pior que isso só o meteoro que na verdade é um foguete de S.O.S e a tentativa de vender a idéia de que as aranhas eram alienígenas que vieram de um portal aberto pelo meteoro, saindo de ovos que não se abriam nunca, mas que o isopor quebrava fácil quando a maldita aranha (opa, outro filme) resolvia sair. A morte dela é incrível, é uma melequeira nojenta, uma babação completa, tira o total prazer pelo sorvete. E pensar que eu perdia sono por causa desse filme aos 7 anos.
Já não se fazem mais filmes de monstros gigantes como antes.
E já repararam que tudo tinha gigante no final? Roteiristas megalomaníacos, não?
Filmes modernos de monstros gigantes não são tão bons. Na verdade, esses filmes da nova safra como Cloverfild e O Hospedeiro apelam para o lado emocional da coisa, as relações dramáticas entre os personagens. Os monstros só fazem figuração. Seguindo essa linha, Cloverfild que poderia ser genial, se torna estúpido na maior parte, porém O Hospedeiro se salva, e se salva bem, tirando a dramatização no final que se torna realmente excessiva.
Bom mesmo é o filme O Nevoeiro. Nesse, tem monstros gigantes pra vários gostos, mas eles realmente estão lá de figuração e o drama é o foco principal. O filme não tente levar a imagem dos monstros pra se manter sólido, e é exatamente por isso que ele funciona. Baseado numa ótima obra de Stephen King, a trama começa após uma tempestade numa cidade pequena do Maine. Um pai e seu filho vão no supermercado comprar materiais para a reconstrução da casa onde um grande numero de pessoas foi lá com o mesmo objetivo. Acontecem umas coisas estranhas e um denso nevoeiro cobre tudo e traz consigo um horror gigantesco, monstros enormes que descobrem na carne humana um sabor delicioso. Trancados no supermercado, o inferno começa. O problema é que o perigo não esta só do lado de fora com os monstros, mas no de dentro também, com os humanos.

Aos poucos, uma fanática religiosa monta uma seita pregando um Deus vingativo que precisa de sangue, e os “lúcidos” não sabem mais o que fazer. Morrer pelas mãos dos fanáticos ou correr o risco no nevoeiro repleto de monstros realmente amedrontadores? O filme tem uma trama complexa como só o King é capaz de fazer, além de atuações brilhantes e um final incrível, diferente de quase tudo produzido em Hollywood. Lógico, ele tem suas falhas, como luz demais para um filme tensão/terror e efeitos especiais que deveriam ter sido menos trabalhados, mais escurecidos.
Ainda assim, prefiro que aranhas flutuantes e jacarés mecânicos fiquem lá nos anos 70 e 80 mesmo, junto com o sofá lá de casa e as marcas da minha bunda nos anos 90.