Aliás, tava conversando com a Manu sobre as olimpíadas e ela me disse que, “E aí, o que vai acontecer depois que o Phelps tiver quebrado todos os recordes? Ele vai se sentir um frustrado”. Eu não pude deixar de concordar. Claro, é o pensamento mais óbvio que depois de todo o reconhecimento mundial, todos os recordes quebrados, um monte de mulher querendo dá pra ele, mais medalhas de ouro que o Brasil em três olimpíadas e ser considerado sexy simbol mesmo com a cara do Quasímodo, ele se sentiria frustrado. Como mais ele poderia se sentir? Só a Manu mesmo.
Aliás, lembrei que com dois empregos e faculdade manter a natação seria meio difícil. Nem mesmo no meu único horário livre, a madrugada.
Ando tão cansado que ultimamente eu começo a segunda-feira sonhando com a sexta e chegando no emprego A esperando o término do emprego B, pra poder me jogar na cama. Porém, um dia desses, quando eu finalmente entro no meu quarto, jogos os sapatos pro lado e penso em me jogar no colchão, observo um estranho tipo de casulo preto perto da porta do meu banheiro. Intrigado e com meu espírito de “que porra é essa?” aguçado, me aproximei da forma anatômica não definida. E para minha total surpresa, quando eu toquei na coisa... ela se mecheu. Ok, não foi para minha surpresa, eu me desesperei feito uma menininha e sai gritando pela casa na velocidade 5, “TEM UM MORCEGO NO MEU QUARTO, ELE VAI ME MATAR E CHUPAR MEU SANGUE”.
E olha que eu ainda nem assisti o Batman, imagine se tivesse sido uma máscara de palhaço.
“Why so serious?” mode: on
Eu e minha avó montamos planos estratégicos, pensamos na hipótese de um atentado biológico ou forjar um bat-sinal pra enganá-lo e fazê-lo sair do meu quarto, mas sem muito tempo pra isso ficamos com a solução mais simples e funcional, chamar meu avô pra exorcizar o bicho. Meu avô chegou tranquilão e aceitou o caso sem pestanejar. Enquanto ele caminhava na direção do meu quarto eu gritei, “Vô, quer ajuda?”. Ele parou o passo, virou o rosto na minha direção, soltou uma risadinha e disse, “Deixa que eu dou conta”. Naquele momento eu tive a impressão que meu avô era o Chuck Norris.
Depois de estrondos que devem ter superado os tiroteios russos na Geórgia, meu avô saiu vitorioso, e o pobre morcego que entrou no seu caminho, desceu escada abaixo, morto. Pronto para desfrutar meu descanso, finalmente me jogo na cama, ligo a TV e relaxo. Até que o locutor do comercial lança a máxima, “toda a energia da Banda Calypso em uma experiência (heim?) nova... Banda Calypso Acústico”. Logo, qualquer possibilidade de eu ter relaxado os músculos e caído em sonolência foram totalmente por água abaixo, eu tive pesadelos a noite toda.
Nos dias que se seguiram eu não deixei de me perguntar porque diaxos a cena musical brasileira era tão deprimente. E principalmente, por que nenhuma figura musical brasileira era capaz de me fascinar? O que leva a nossa cultura pop a reconhecer ícones tão sem sentido?
Para piorar esses questionamentos, eu finalmente conheci um pouco da fantástica obra musical da badaladérrima primeira dama francesa, Carla Bruni. Ai você depois de se espantar com o adjetivo muito gay pergunta, “Badaladérrima por que afinal de contas?”. Carla Bruni conquistou o coração do presidente Nicolas Sarkozy logo após o rompimento dele com a mulher (alguém sentiu cheiro de chifre? Levanta a mão comigo então!). Por ser modelo internacional, cantora cultuada em toda a França com dois álbuns e linda pra caralho, o romance dos dois foi super comentado no mundo inteiro. O casamento saiu depois de três meses de relação e a lua de mel só pelas fotos parece ter sido ótima. Ou seja, O Diário da Princesa perde.
Mas é a musica o que faz a diferença dessa mulher. O primeiro sucesso mundial de Bruni foi a magnífica canção "Quelqu'un M'A Dit", belíssima e tocante na letra e no som. Seu primeiro álbum foi um estrondo, já o segundo álbum (todos em inglês) não foi tão bem recebido pela crítica, já que era sua tentativa de arrancar sucesso internacional na onda de “Quelqu’um M’A Dit”. O terceiro (lançado somente após o casamento), volta um pouco mais as origens e é um tanto polêmico devido as suas referências as drogas, “Tu es ma Came”, e seus inúmeros (poderosos e ricos) amantes, em “Ta Tienne”.
Na França eles tem Carla Bruni, e no Brasil nós temos a Marisa.
Marisa: usa o cartão corporativo para comprar Contigo! e Quem Acontece
Mas eu não acho que o Lula seja capaz de conquistar alguém que estudou na Sorbonne. Enfim...
Ainda assim, acho que na concepção de artistas com musicas estilizadas e harmonia como arma principal o Brasil não deixa tanto a desejar. Temos Marisa Monte e Adriana Calcanhoto em contrapartida a Carla Bruni. Aliás, eu adorei os últimos álbuns dessas duas. Um tanto frios e melancólicos além da medida certa, mas ainda assim adoráveis. O problema nosso é na cena underground, quase inexistente, quando se fala de musica eletrônica.
Os Estados Unidos não deixam a desejar nesse quesito. Pelo contrário. Eu já havia falado um pouco da cena underground de Nova York na pele do Dangerous Muse, de longe meu duo favorito. Mas o selo californiano Iheartcomix vai muito além disso. As musicas de Acid Girls, The Glamour, Ocelot, dentre outros, são fantásticas, tem o verdadeiro espírito da musica eletrônica, aquela coisa de arrepiar a pele, levar o ritmo da musica as batidas do seu coração e elevar a circulação do seu sangue (sem precisar de drogas). Porém, o verdadeiro destaque do selo vai para as fodásticas Toxic Avenger (com direito a faixa em Need for Speed) e, meu favorito do selo, Hearts Revolution.
Da vontade de ser DJ só por causa deles.
Mas enquanto o cenário musical brasileiro anda a passos de tartaruga das para-olimíadas, o jeito é ir caçando o que o exterior também pode oferecer. Até que outro morcego entre no meu quarto, ou o Ximbinha se empolgue com a guitarra e lance Banda Calypso Heavy Metal.