quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Todo Gosto Musical Duvidoso É Alimentado Por Cantores Duvidosos

De todos os desentendimentos que eu tenho com o meu irmão (e Deus sabe que não são poucos), os musicais são os piores. Se um escuta as musicas do outro, é um sinal completo de que um esta assimilando parte do gosto cultural do outro. E acredite, quando dois irmãos se desprezam, o pior modo de levantar uma bandeira de derrota na eterna “batalha do mesmo sangue” é justamente ouvindo as mesmas musicas. Pra vocês terem uma idéia, meu irmão é metido a DJ de baile funk (MC Créu é o básico), dance para galerosos, axé (daquele tipo que você nunca sabe distinguir se uma batucada é do Timbalada ou do Araketu porque você não vê a mínima diferença nos dois) e, Deus tenha piedade da alma dele, sertanejo no balde (sabe aquela musica do “Perdi um grande amor, não sei o que fazer, amigo locutor liguei pra te dizer”? tá bombando lá em casa. Ele não ta ouvindo nem mais o Leilão, e sim a música pós-leilão, “eu vou doar o meu coração, porque no leilão não consegui nenhum lance”). Já o meu gosto musical “duvidoso” já foi bem discutido aqui.

Então eu chego em casa ontem, quase desabando depois de um adorável e calmo dia de trabalho no hospital, e do meu quarto rola o som do Jay Vaquer. Chego lá e meu irmão ta ouvindo todas as musicas que eu baixei dele. Eu olho pra ele, pra playlist e dou um sorriso de vitória. Mais uma vez meu gosto musical impera. Porém, após três minutos, eu percebo que o clima Jay Vaquer não era dos melhores. E então eu percebi que tava ficando enojado. Tal do Amor, Pêndulo e a faixa de algum dos mil anos de Malhação, Um Beijo Seu. Meu irmão tava ouvindo só o que o Jay Vaquer tem de pior. É, aquela não foi uma vitória. E logo ele voltou a escutar um daqueles hip hop's cujos clipes os negões exibem casas que nunca poderão comprar, jóias que nunca terão, roupas de marca que eles compram em brechós, grana que sempre fica com as produtoras e gostosas que eles dificilmente comerão. Começo a achar que todo cantor de hip hop sofre da necessidade de esbanjar nos seus clipes tudo o que não tem, e em proporções gigantescas. Deve ser pinto pequeno.

Voltando ao Jay Vaquer. Ele foi uma das minhas melhores descobertas em 2007. Além de um tipo de pop que quase não existe no Brasil, sua musicalidade original é muito bem combinada com letras que trabalham de uma maneira cult críticas sobre a sociedade em geral. Exato, Jay Vaquer pode ate ser pop, mas ele é cult. Suas músicas, Pode Agradecer, A Falta que a Falta Faz, Longe Daqui e, principalmente, Cotidiano de Um Casal Feliz são as melhores musicas em português que eu ouvi em anos. O problema está justamente em musicas como as que meu irmão gostou. Vaquer ainda não decidiu se tentará ser um artista cultuado nos meios alternativos ou se corre para o abraço do mercado capitalista musical (na figura da MTV e do Faustão).

Jay Vaquer: "Meu sonho é fazer um duo com a Pitty no Domingão e ouvir o Fausto falar, 'oh louco mew, quem sabe faz ao vivo'"


O motivo de eu admirar ainda mais o Vaquer é justamente por ele demonstrar que essa duvida é explicita. Diferente das bandinhas que se dizem alternativas, contra o sistema, mas que darão entrevistas chorosas pro Fausto Silva quando tocarem pela primeira vez no Domingão do Faustão e o(a) vocalista disser “sempre foi o maior sonho da nossa banda estar aqui no seu programa”. Pra depois esquecerem as origens, saírem na Capricho, Toda Teen e futuramente se apresentarem no VMB ao lado do NxZero. Será esse um dos motivos de eu não gostar muito da “musica alternativa acreana”?

OK, eu vou me condenar agora com os pseudo cults, mas é do pop que eu gosto. Antes eu sentia vergonha, mas agora eu estufo o peito pra dizer isso. E que venha a saraivada de tiros do pelotão de fuzilamento. Pra vocês terem uma idéia da coisa, fazem uns 6 meses que eu acordo pelo som do mesmo homem (calma, seu bando de depravados), o DJ francês David Guetta domina as paradas do meu despertador. A musica dele, suas batidas, o trabalho que ele realiza sobre musicas renegadas no passado e transforma em sucessos no presente são simplesmente brilhantes. The World is Mine é quase psicodélica, Money é gritante, Stay é pra pedir biss, Love is Gone é absurdamente contagiante, mas sua preciosidade, sua melhor musica na minha modesta opinião, é Love Don’t Let me Go, que pega emprestada a batida de Walking Way. O clipe de Love Don’t Let me Go, além de mostrar o le parkour de uma forma apaixonante e vibrante (tendência usar le parkour pra remakes musicais, Madonna fez a mesma coisa com Abba) é um dos melhores que eu já vi.

David Guetta está vindo tocar em Florianópolis, no carnaval. Nem preciso dizer que estou me remoendo por não poder ir.

Outra surpresa interessante no ano passado foi o Mika. Ele me causa sensações contraditórias. Eu adorei musicas como Relax, Take it Easy, Grace Kelly, a bizarra Love Today e até a viadíssima Lollipop. Porém, o resto de seu CD é um porre, mas hoje em dia qual é o cantor que consegue emplacar 4 sucessos mundiais num só CD? Mika tem seus méritos. Porém, com relação ao Mika, a mídia passou da música para a sua vida pessoal num estalar de dedo. A discussão “será que ele é?” dominou geral, foi motivo dele se tornar capa da revista Out justamente com essa discussão. E quando ele mudou o visual, puta merda, que bosta foi aquela que ele fez no cabelo? Ate eu queria os cacinhos dele, até ele vir com a chapinha (medo).

Mika: hum... tipo... você ainda tem alguma dúvida de que ele seja?


Se você chegou ate aqui nesse post (segundo o Google Analytics o ibope do meu blog ta despencando mais que o do Conexão Xuxa, que custava 2 milhões por programa e perdia na manhã de domingo, pasmem, para o Pica Pau na Record), deve ta se perguntando, “Samuel resolveu falar só de cantorzinho pop com tendências homossexuais nesse post?”. Claro que não. Eu guardei o melhor pro final.

Mesmo sendo um fã assumido do pop, a melhor descoberta musical de 2007, foi o grupo Babyshambles. Foi imediato, eu virei fã de Pete Doherty (ex-The Libertines) e seu novo grupo instantaneamente. Passei direto dos escândalos dele com a Kate Moss, a cocaína e aquela aparência de “musico drogado nada charmoso e super decadente, totalmente diferente do que a gente vê nos filmes de bandas de rock” e fui direto pra musica. Delivery foi umas das maiores surpresas do ano passado, musica muito gostosa, letra forte, gostei particularmente da guitarra (ate parece que eu entendo, nem Guitar Hero eu jogo). Fuck Forever, French Dog Blues, Killamangiro, enfim o primeiro álbum todo é muito bom. Doherty foi comparado a Lord Byron por seu trabalho, a poesia byroniana encontrada em suas letras. Outros dizem que ele vai ter um fim parecido ao do Curt Cobain. Lance pelo menos mais uns 2 albuns pra se tornar imortal antes de enfiar uma bala na cabeça, ok Doherty?

Pete Doherty depois de um julgamento: "Agora todo mundo dançando o chá-chá-chá"

Eu também poderia ficar aqui falando de Benjamin Biolay (francês, phyno e não é fruta), Offer Nissim (ídolo de 9 entre 10 baladeiros, embora eu esteja entre os 1), Rufus Wainwright, Radiohead (so pra bancar o cult, não gosto deles) mas chega, né? Vou terminar este post voltando a gongar de mim mesmo e do meu irmão. A gente pode até não se entender nesse gosto musical, mas estamos marcando de ir juntinhos assistir o show do My Chemical Romance se estivermos em Curitiba na época. Sou fã? Não. Mas é bom assistir um show que pode ser chamado de show de vez em quando. E admito, até que eu gostei do segundo álbum.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sonhos Sanguinolentos, Filmes Mais Sanguinolentos Ainda E Medo (muito medo) De Sinais

Desde o dia 2 comecei a trabalhar num hospital (e antes que alguém pergunte, eu não sou médico, não sou enfermeiro, não vendo vagas na fila do agendamento e não, muito menos, ganho bem). Eu sou um Técnico em Gestão Pública hospitalar (lê-se: badeko). Realizei um sonho. Mamãe quando me viu nascer disse, “meu filho vai ser o melhor Técnico em Gestão Hospitalar (badeko) do mundo”, e quando ela me viu realizando esse sonho só faltou chorar, me abraçou e soluçando de emoção disse “Estou tãããão orgulhosa de você”. Ok, se você não sentiu a ironia de tudo isso, o que diabos você ta fazendo nesse blog mesmo? Se manda seu sem-senso-crítico.

Essa madrugada eu tive um sonho muito bizarro. Eu tava correndo pelas ruas da Bolívia (de novo? Mas que porra de perseguição é essa que a Bolívia tem comigo?) com algumas pessoas e atrás da gente vinha uma horda de zumbis canibais que corriam mais que o Rubinho com o carro a toda e vinham sedentos de sangue. Capitei vossa mensagem, subconsciente. Eu tava correndo pra salvar minha vida e se eu não botasse sebo nas canelas eu ia ser comido por canibais (não do modo que vocês estão pensando seus doentes) e ia morrer. E não é que depois de correr, pular muros e gritar feito uma menininha fui alcançado, mordido, rasgado... ai, quero nem lembrar (na verdade, eu não lembro muito, sou péssimo com sonhos).

Logo após a primeira morte, o sonho deu um branco e quando a luz diminuiu (efeitos especiais de primeira direto da minha consciência), eu estava no mesmo lugar do começo do sonho, correndo com as mesmas pessoas e (adivinha?!) com os zumbis-atletas-paraolímpicos atrás de mim. Ai eu pensei comigo mesmo, “mas que porra é essa?” Eu tava num vídeo game de survival horror? Quantas vidas eu tenho nesse troço? E o pior é que eu voltei ao começo da fase. Quando os primeiros começaram a morrer foi que eu percebi que era hora de voltar a correr e passar de nível naquele jogo.

Ao mexer no meu bolso, me vi com um 38. Legal. Tirei, apontei e disse “Ei, filho da puta”, o zumbi olhou pra mim e eu atirei na fuça dele. Legaaaaal. Voou sangue e miolos pra todo lado. Só que era uns 100 zumbis e no Resident Evil, a Magnum sempre tem só 6 balas. Fazer o que, vamos correr de novo. Só sei que um homem me salva, me leva pra casa dele (olha lá o que vocês tão pensando hein) e lá também tem os filhos dele. Ai eu pensei, “já vi esse filme, vamos passar um tempo vivendo como família feliz escondidos dos bixos, ai vai rolar alguma situação que o pai vai se sacrificar pelos filhos, o filho vai se jogar pra cima do bixo, o bixo vai comer o filho, vai ter muita bala, muita ação, e no fim, dos 5 iniciais, só sobrevivem uns dois. Putz, espero que eu seja um dos dois.”

Lembrei que eu tenho uma paixão gigantesca pelo tema de zumbis no cinema. Em 2005 assisti os dois filmes que reviveram o gênero mais consagrado do terror para mim, Extermínio e Madrugada dos Mortos. Extermínio é um marco, não refaz o gênero, mas o eleva a algo maior, melhor, complexo e assombroso. Extermínio não é só um filme que fala sobre zumbis assassinos, mas de relações humanas, da sociedade atual como uma doença que degrine e desfaz os instintos da humanidade. Mesmo que num momento os zumbis pareçam deixar de existir, é nele que o personagem principal, Jim (na assombrosa e ótima atuação de Cillian Murphy) mostra que o ser humano ainda tem instintos, que nós somos animais demoníacos quando tomados por situações naturais que nos despertem a isso. Não é só a sociedade que mudou, foi o ser humano também. Extermínio é mais que um marco, é cult. A cena de Jim caminhando por uma Londres deserta é uma das melhores que eu já vi.

Madrugada dos Mortos é o bixo. Sangue, violência e morte da forma mais arrepiante e nas situações mais incríveis que você já viu. Esse é um remake da obra do mestre dos zumbis, George Romero, so que é um remake do tipo “vou refazer, mas do jeito que eu queria que esse filme realmente fosse”. E Madrugada dos Mortos se torna um filme de ação, sem muitos sustos, pouco aterrorizante, mas com uma bizarrice e cenas de ação e terror que são do caralho, situações que você nunca deve ter imaginado, mas que deixam o filme previsível. Ainda assim, é bom demais. Ta, eu sou suspeito pra falar, adoro zumbis. Mas Madrugada é bom, com seu começo vibrante, seu meio razoável (que só falha em poucas vezes) e seu finalmente do tipo “Isso vai dar merda, by Capitão Nascimento”.

Os ingleses lançaram também um ótimo filme, no Brasil chamado Todo Mundo Quase Morto, uma crítica a sociedade, ao consumo, a falta de noção das pessoas alienadas e, lógico, aos próprios filmes de terror com zumbis, de um modo que só o refinadíssimo humor inglês é capaz. George Romero lança alguns filmes de zumbis de vez em quando também, mas Terra dos Mortos, por exemplo, mesmo com seu charme a la Romero, não é grande coisa. E o próprio Extermínio 2, mesmo sendo considerado por mim o melhor blockbuster de 2007, não chega ao grande patamar que o primeiro alcançou.

Dizem que os melhores filmes de zumbi estão na época de Romero e dos filmes grindhouse. Assisti então Planeta Terror, do cult (por causa de um só filme que sustenta esse título a ele, mas que já esta definhando) Robert Rodriguez. Um atentado biológico libera um vírus (blá blá blá), uma cidade inteira é contaminada (blá blá blá), temos um mocinho ante herói que resolve salvar o mundo (blá blá blá), a mocinha é uma ex stripper que tem uma perna arrancada e no lugar dela ganha uma metralhadora (opa, agora sim!). Planeta Terror não é muito bom, é diversão garantida, ação, mulheres gostosas e Quentin Tarantino tendo o pênis derretido, mas tudo sem muito aprofundamento. Seria perfeito se fosse uma produção baixa, mas custou uma nota. Acho que eu não peguei o espírito grindhouse, então vou continuar esperando Extermínio 3 ansioso mesmo.

Planeta Terror tem uma coisa interessante. O caos dos zumbis canibais, a morte e a destruição começam no hospital (os médicos tentando resolver os problemas é angustiante e a gente pensa “Já era!”). Em Madrugada dos Mortos também. Aí, eu to ligando meu sonho ao meu local de trabalho. Se acontecer do mundo ser tomado por uma epidemia de zumbis canibais, os hospitais são os primeiros a se fuder. Ei, espera aí, eu trabalho num hospital e tive um sonho em que eu era atacado e perseguido por zumbis. Deus, que isso não seja um sinal.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Em Corrimão Nem Todo Mundo Passa A Mão E Falta de Resoluções Para 2008

O fim do ano pra mim geralmente é um momento de contradições, altos e baixos. Eu tava com vontade de escrever esse post no ano passado (faz tempo, né?) mas eu fiquei muito ocupado trabalhando minha felicidade (afinal, tem coisa mais trabalhosa na vida do que se manter feliz?). Então, eu esqueci que internet existe. E o melhor, eu não me senti nem um pouquinho culpado. Mentira, mentira, eu sei, é horrível, eu sou um viciado em internet, eu sei, eu preciso de tratamento. Eu to chegando ao cúmulo de escovar os dentes e ligar o computador ao mesmo tempo (nem tentem imaginar essa cena bizarra). Enfim, o fim do ano, e eu não falo especificamente do reveillon (palavra sem tradução para o português), mas do período de nove dias que o antecedeu, o qual foi mais que bom, foi mágico.

Tá, mas nem tudo são flores na minha vida. Lembrei que meu período pré-fim-do-do-fim-do-ano não foi dos melhores. Eu fui fazer um trabalho de fotografia no centro da cidade com duas amigas, lindo, leve e loiro. Quando você anda no meio da multidão com uma câmera fotográfica profissional pendurada no pescoço, você se sente o próprio Cartier Bresson, dá aquela sensação de fotógrafo profissional que te faz inchar o peito e te dá a idéia de que todo mundo que te olha ta morrendo de inveja de você porque você é O Fotógrafo Profissional (sim, eu me sinto besta fácil). Detalhe, a câmera era da universidade e se eu a quebrasse eu teria que trabalhar dois meses para pagá-la, e sem comer nada, comendo, eu demoraria três.

Além do mais, o centro estava abarrotado de gente fazendo compras de Natal. Deus, Rio Branco vira a visão do inferno nessa época. Lembrei que sai as compras um dia com o Frederico e numa de nossas viagens, ele me levou numa loja de sapatos que mais parecia um cabaré nordestino. Ao entrar lá, minhas narinas foram tomadas não por um aroma desagradável, mas por nháca pura mesmo. Levei minha mão ao nariz imediatamente, e no meio daquele inferninho do consumismo imperialista globalizado na figura do garoto propaganda máximo da Coca Cola, o Papai Noel, eu tive vontade de gritar praquela multidão se eles não sabiam o que era desodorante, nem que fosse Leite de Rosas. Aliás, falando em consumismo, eu tive certeza absoluta que se o capitalismo fosse um ser humano, o sangue dele seria de Coca Cola, e se ele fizesse regime seria de Coca Cola Zero, o irmão gêmeo gay da Coca Cola.

Bem, o parágrafo anterior foi pra introduzir o caos do local onde eu fui tirar fotos. Voltando a sessão em si (eu escrevi sessão certo? O Word não ta acusando erro não), depois que eu dei a máquina para a Manu, ela tava atrás de tirar uma foto de linhas e resolveu faze-la na grade do Memorial dos Autonomistas. Eu tava acompanhando ela e coloquei meu braço sobre o corrimão. Quando ela terminou (a Manu faz uma foto a cada 10 minutos) e pediu pra irmos, o meu corpo mexeu, mas meu braço não. Olhei com horror e perplexidade para a minha blusa Diesel. Eu estava colado.

Depois de gritar desesperadamente “Mas que porra é essa?”, eu comecei a puxar com mais força meu braço magricela e só ouvi aquele som de coisa colada sendo arrancada à força. Geralmente esse som é muito agradável, principalmente para crianças com espírito de destruição mais aguçado que o normal, mas dessa vez eu sofria mais que um desgraçado, afinal, era a minha blusa Diesel que estava gerando aquele som perturbador (porém prazeroso quando a destruição é alheia). Quando eu me descolei e, chocado, passei os dedos no corrimão pra saber que merda era aquela, eles vieram com manchas marrom. Gritei pra quem quisesse ouvir, “COMO É QUE PASSAM VERNIZ NUM CORRIMÃO E NÃO COLOCAM NO MÍNIMO UMA PLACA DE ‘TINTA FRESCA’? FRESCO É QUEM PINTOU ESSE CARALHO”.

Eu passei o resto da sessão (?) desoladíssimo. Eu havia perdido minha camisa Diesel, e eu ainda to em fase de futilidade de moda, por isso não me critiquem (aliás, eu me dei de Natal uma cueca Calvin Klein linda, afinal, a gente tem que passar o reveillon de roupa nova). Pra piorar, minha professora de Fotografia, a Aleta, pra tentar me consolar disse, “Você pode recortar a camisa e fazer dela uma camiseta”. Soltei um sorriso e comecei a me acostumar com a idéia, ate que ela solta, “Vai ficar parecendo um cafuçu”. Pronto. Lógico, ela não fez com maldade, mas eu fiquei chocado.

Na saída do Mercado Velho, eu pensei e vi que havia um jeito de salvar a camisa. Se um dos meus suvacos estava cheio de linhas de verniz, o jeito era deixar o outro com linhas de verniz também. Voltei com a Manu no Memorial e quando chegamos lá eu disse pra ela, “Você finge que a gente ta cansado que eu vou colocar o braço aqui e esperar um pouquinho ate o verniz manchar o outro suvaco da blusa”. Ao invés de fingir cansaço a Manu desatou a rir. E quando eu coloquei o braço não senti colagem. O verniz secou. Ódio. QUANDO ALGUEM DESTROI O PATRIMÔNIO PÚBLICO TEM QUE PAGAR UMA MULTA, MAS QUANDO O PATRIMÔNIO PÚBLICO DESTROE O PRIVADO O GOVERNADOR DEVIA ME FAZER UM CHEQUE NÃO? Desisti daquela batalha, ela estava perdida.

Eu acho que como a maioria das pessoas eu deveria escrever sobre ou uma retrospectiva de 2007 ou minhas expectativas para 2008 (alguns falam das resoluções também), mas eu tenho 2 problemas. O primeiro é que eu tenho uma péssima memória, eu me lembro das sensações muito fácil, mas pouco dos fatos, na verdade eu até me lembro dos fatos, mas sou extremamente péssimo com cronologias. Por exemplo, eu lembrei que esse eu ano assisti O Libertino, mas pensei que havia assistido há dois anos, e que eu assisti Os Sonhadores (filme favorito) acho que em 2004, mas parece que eu assisti ele esse ano. E o principal, quem diabos cumpre aquilo que promete para o ano novo? Tanto faz se você promete emagrecer (ceia de Natal e Reveillon pódi), se promete arranjar amor novo (sem especificar se é um oficial ou amante), se é acordar e dormir cedo pra aproveitar melhor o dia (sendo que já no dia primeiro acorda depois do meio dia e de ressaca só pra tomar analgésico e dormir de novo) e, principalmente, estudar mais (a pior das mentiras de ano novo, porque é justamente a que menos se cumpre).

Na verdade, talvez eu faça apenas uma retrospectiva cultural do meu ano pra colocar aqui anteriormente a esse texto. 2007 me foi um grande ano com relação a séries de TV, cinema, musica, literatura, artes e viagens (Bolívia não conta). Aliás, foi um grandioso ano na minha vida pessoal também, especial de uma forma que eu não esquecerei. Eu sempre gosto dizer para todo mundo que me pergunta sobre o ano novo que eu só tenho uma expectativa para o ano novo que chega, sempre só uma, mas que eu nunca falo pra ninguém. É meio que um segredo e uma superstição minha (tipo aquela de costurar uma cueca na boca de um sapo pra trazer o amor de volta em três dias, e eu to louco pra fazer esse experimento não pelo efeito da macumba, opa, quis dizer simpatia, mas porque eu queria saber quanto tempo um sapo sobrevive com um cueca costurada na boca).

Enfim, feliz ano novo e, novamente pegando um pé da Coca Cola, good vibes.