quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Eu realmente preferia que os heróis dos outros morressem de overdose
Em 2011, três filmes de super heróis são extremamente aguardados pela minha pessoa: Capitão América, Thor e Lanterna Verde. Por que eu sou fã dos três? Claro que não, acho o trio uma droga. Mas porque desde o início dos anos 2000 que o cinema não se foca mais nos heróis adultos, nos personagens que são machos alfas, homens formados de corpo e de mente. De fato, meu interesse no trio de filmes é: qual será seu impacto na indústria pop?
Ah, mas tem também Homem Aranha 4 (com o pratagonista mais esquálido e sem graça possível para o recomeço da franquia), o novo Crepúsculo e o último Harry Poter. Resumindo, temos o time dos adultos (Thor, Capitão América e Lanterna Verde), contra o time dos menininhos (Homem Aranha, Harry Potter e Edward/Jacob). A verdade é que em tempos onde a aburrecenscialização (a palavra é minha, mistura de: adolescência com burrice e transformação) da cultura pop esta cada dia mais intensa, essa é uma luta quase injusta para os adultos. De fato, é o pensamento massificado da adolescência que tem batido o martelo do que a cultura pop deve seguir.
Mas eu tenho lá minhas esperanças...
Homem de Ferro foi lançado em 2008 e seu sucesso foi tão grande que definitivamente nem mesmo a Marvel estava esperando tanto. A consequência foi à produção em ritmo acelerado de uma continuação que estreou em 2010. Homem de Ferro se torna então um marco por conseguir voltar o foco das mentes humanas ocidentais para os super heróis adultos, saindo do processo de transformar tudo em versão aburrecente.
Mas nem tudo são flores. Vale lembrar que aproveitando o sucesso do Homem de Ferro, um novo desenho animado da série foi produzido e Tony Stark virou... um garotinho. Aliás, esse desenho é bem ruim, depressivo mesmo, não consegui assistir mais que um episódio, e apenas uma criança retardada realmente se sentiu atraída por aquilo, além de um desrespeito com o próprio renascimento da franquia.
Mas não podemos falar em desrespeito histórico sem falar na maior humilhação da cultura pop até hoje: o sucesso descontrolado da saga Crepúsculo. Filme 1: vampiros vegetarianos vivem numa cidade isolada no cu do mundo, chega uma adolescente irritante e o vampiro hepático se apaixona por ela, e nem beijar na boca do menino ela pode. Pra piorar, surge um grupo de vampiros do mal igual o Black Eyed Peas. Filme 2: o vampiro que não consegue nem beijar na boca porque fica na dúvida “dô ou num dô” faz a loka e corre pras montanhas. Pra consolar o cão da menina fica o lobinho, cara de pedreiro, corpo de ato pornô gay e sem camisa em 9 de cada 10 cenas. A menina corre até o vampiro na Itália e antes de ficarem juntos a gente tem uma puta cena ridícula de cristais Swarovski. Filme 3: a menina vira a puta da história, pronto, cabô.
E ainda vem mais dois por aí, heim... A saga Crepúsculo é tão ruim que nem a paródia Os Vampiros que se Mordam é boa.
Eu defendo que a culpa da cultuada história vampírica ter se tornando isso que se tornou é da Anne Rice. Ela que passou o vampirismo do ocultismo e do demoníaco para o glamuroso, o fascinante. Antes as crianças tinham medo de vampiros, hoje elas querem ser um. E não estou nem falando de Entrevista Com o Vampiro e o (fatídico) A Rainha dos Condenados. Há coisa bem mais punks como O Vampiro Armand que é viadagem demais até pra mim. Após Anne Rice tivemos isso então: um boom da modificação quase que completa da secular lenda vampírica até chegarmos ao ponto que nem o sol os mata (Vampire Diaries também tem isso, além de sempre que o vampiro entra em cena é gasto todo o estoque de gelo seco de Hollywood pra fazer a aparição).
Até o meio dos anos 80 todos os super heróis eram adultos e possuíam forte conceitos de honra e valor. Hoje viraram um bando de adolescentizinhos egoístas que dificilmente passam boas lições para a garotada. Vide Ben 10, mesmo que ele tenha crescido.
Mas nem tudo está perdido. Hilariamente, um dos filmes mais legais que assisti no ano passado foi Daybreakers. Como seria uma sociedade onde todos são vampiros? Inclusive as crianças? Aliás, cena que diz “se você é fã de Crepúsculo, caia fora”, é justamente a que um grupo de crianças vampiros estão reunidas fumando, afinal, fazem mais de 10 anos da epidemia vampírica, são adultos, em corpos de crianças.
Ed Dalton (Ethan Hawke), que trabalha para a corporação agrícola de sangue humano, é responsável pelo desenvolvimento de um novo substituto do sangue, pois o sangue humano neste momento é escasso. Todos trabalham de noite, é claro, os carros são equipados com janelas de bloquear os raios ultravioleta, alarmes indicam nascer do Sol, teor de UVA… e por aí vai, bem criativo… É a partir dai que os escassos (e caçadíssimos) humanos descobrem uma possível cura para o vampirismo. Porém, se a imortalidade é considerada um presente, um milagre, mesmo sem sangue, um vampiro gostaria de ser humano?
Não é perfeito. O ritmo é bem lento, algumas tramas paralelas são chatas. Salvam cenas de ação fantásticas, inclusive a carnificina cíclica de soldados e a atuação sempre ótima de Sam Neill, o grande vilão. Porém, mais do que um bom filme, Daybreakers é uma aula de sociologia. É uma lição, uma moral, gera questionamentos acerca de sociedade, humanidade e (mesmo impossível) imortalidade... coisa que definitivamente um Crepúsculo da vida não levanta, muito menos o Ben 10.
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