segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eu odeio começar uma obra e não saber como terminar

1.0

O ônibus da Ufac às 18h30 é lotado. Completamente lotado. Geralmente depois da metade do percurso ninguém mais consegue subir e ninguém desce. As pessoas lá só vão pra Ufac. Elas não vão descer na metade do caminho. Então o ônibus fica lotado. E ninguém mais entra.

Ainda assim o ônibus vai num silencio mórbido. Ninguém conversa, ninguém troca olhares. Eu olho todo mundo. Mas ninguém me vê, porque ninguém me olha, ninguém repara em mim, e ninguém repara em ninguém. Até o dia em que eu olhei praquela garota e surpresa, aquela garota olhava pra mim.

1.1

Eu estou deitado no colo daquela garota. Ela afaga meus cabelos e me canta musicas dos Los Hermanos. Ela adora as musicas dos Los Hermanos, ela ama, diz que o Marcelo Camelo é o poeta de toda uma geração. Eu odeio. Aliás, eu nem ligo. Eu gosto de escutar Arctic and Monkeys no meu ipod. Ela não tem ipod. Aquela garota de saias de renda canta Los Hermanos pra mim enquanto eu estou no colo dela. Eu odeio Los Hermanos. Mas eu gosto daquela garota. E a voz dela é tão gostosa.

Faz um calor danado na Ufac. É começo de maio. E debaixo de uma árvore eu estou no colo daquela garota. É sábado de manhã. Um ônibus passa por nós. Ele está vazio. Nenhum ônibus circula cheio na Ufac sábado de manhã. Só o primeiro. Aquela garota massageia meus cabelos. Ela olha pra mim e sorri. Ela canta baixinho “deixa eu brincar de ser feliz”. É uma frase bonita. Mas em seguida vem “todo carnaval tem seu fim” e eu sinto uma tristeza tão grande dentro de mim.

1.2

Aquela garota anda na minha frente. Nem de perto, nem de longe. Ela está numa distancia fixa. Vinte minutos atrás ela tinha dito “eu não sou capaz de te amar”. Quinze minutos atrás começou a chover desesperadamente. Dez minutos atrás ela começou a caminhar debaixo de chuva. Nove minutos atrás eu tentei abrir meu guarda chuva, mas ele quebrou, porque eu tentando limpar meus óculos sujos na frente de respingos d’água e atrás das minhas lágrimas acabei abrindo o guarda chuva errado. Oito minutos atrás eu estava começando a andar rápido para alcançar aquela garota, mas quando eu a alcanço, eu diminuo passo. Quatro minutos atrás eu estou completamente encharcado e minha cueca molhada incomoda porque começa entrar dentro da bunda. Dois minutos atrás aquela garota para de andar, eu paro junto, ela olha pra mim e diz:

“Eu estou indo embora e você nunca mais vai me ver”.

Um minuto atrás aquela garota foi embora. E eu nunca mais a vi. Zero minutos atrás, eu estou parado, chuva caindo, e a cueca não me incomoda mais. Meus óculos estão molhados por dentro e por fora.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Se você acha que a Terra é um planeta sem esperança, nem queira conhecer o resto da galáxia então...

“Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável...”

“...Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu.”


Entre parar pra pensar no sentido da vida, do universo e tudo mais, ou viver feliz, eu escolhi viver feliz. E quando eu penso que essa escolha pode ter sido a errada, é só eu parar um segundo pra pensar no sentido da vida, o universo e tudo mais pra perceber claramente que eu fiz a melhor escolha possível.

Atualmente eu estou lendo a trilogia de 4 livros de Douglas Adams. E esqueçam Star Wars, pois O Guia do Mochileiro das Galáxias é a melhor obra de ficção científica desse planeta. E também a mais nonsense/bizarra/porra-louca/que-diabo-é-isso? da história. No primeiro capítulo do primeiro volume temos a destruição total da Terra. Por quê? Simples, nosso planeta é um pequeno obstáculo na construção de uma estrada espacial. Tivemos 50 anos pra fazer reclamações no escritório público mais próximo, que fica em Alfa de Centauro, o problema é que não vamos lá com muita frequência. Sendo assim, após trinta segundos de pânico, a frota dos alienígenas Vogons (a raça mais terrível do universo não por serem perigosos, mas burocráticos demais) destrói o planeta. Simples assim!

Arthur Dent é o único que escapa com vida, pois seu amigo alienígena (que ele não sabia ser alienígena até 12 minutos antes da demolição) o tira do planeta. E após uma improbabilidade bizarra que pode ser explicada cientificamente através do Gerador de Improbabilidade da nave Coração de Ouro, passam a viver algumas aventuras juntos com Zaphod, Trilian e o robô maníaco-depressivo-suicida Marvin.
"Vida?! Não fale comigo sobre a vida"

Porém, o livro tem uma tirada bastante interessante. A resposta da questão fundamental da vida, o universo e tudo mais. Um computador mega fodástico (e arrogante pra caralho) após alguns milhões de anos de calculo, disse que a resposta a essa questão é... 42. Sim, os criadores do computador ficaram tão putos com essa resposta quanto você leitor. O computador informou que o problema não era a resposta, mas a pergunta, que eles não sabiam, e que não era possível de se descobrir pelo computador, então a busca da questão fundamental da vida, o universo e tudo mais se torna o foco, porque a resposta nós já temos.

O primeiro volume da série é de longe um dos livros mais incríveis que eu já li, uma crítica forte a nossa sociedade e ao nosso planeta com suas guerras sem sentindo, seus preconceitos e estupidez. Nem o livro de Piadas do Costinha me fez chorar de rir, mas o do Douglas Adams sim. Porém, após uma alta expectativa depois de ler O Guia, o segundo volume, O Restaurante no Fim do Universo, me soou deveras decepcionante. Chorei de rir? Chorei! É bom? E ái daquele que falar algo contra! Mas pareceu sem o ritmo bizarro inflamado pelo primeiro. Sem falar numa questão que me encheu o saco em particular: a banalização da viagem no tempo.

Gente, como é que o James Cameron consegue dormir a noite? Se todo mundo no nosso planeta acha que viajar no tempo resolve todos os problemas da nossa vida (e da Skynet também, a maquina de inteligência artificial mais burra do mundo), a culpa é do James Cameron. O Exterminador do Futuro é a série de ficção científica mais sem sentido da história. Terminator 1 e 2 são tão bons, mais tão bons, que a gente nem consegue questionar os defeitos mega-hiper-powers dos roteiros, mas o 3 e 4 são tão bomba, junto com aquela série bizarra da Sarah Connor que aí a gente percebe como tudo é uma viagem em LSD sem volta.

Exterminador 1: O Kyle Reese veio do futuro pra salvar a Sarah Connor porque ela vai ser a mãe do John Connor, o todo fuderoso da resistência, só que aí, o Kyle pega a Sarah e quem nasce dessa pegada com força? Jhon Connor. Heim? Como assim, Bial? O pai do Jhon Connor é mais novo que ele minha gente e nasceu depois dele. Stephen Hawkey, explica o que isso significa:

"Vocês tiraram toda essa bizarrice histórica de onde? Do vácuo? De um buraco negro?"

Exterminador 2: O pau no cu do Kyle disse que a resistência estava vencendo a guerra, então porque mandaram mais dois Exterminadores mesmo? Ah, eu não consigo falar mal desse filme mesmo querendo. Tem algumas das melhores cenas de ação ever e a personagem feminina mais incrível do cinema, a Sarah Connor sarada, louca e gostosa me deu mais pesadelos que o T1000.

Exterminador 3: James Cameron deve ter dito, “Galera, eu não sei mais o que fazer com esse filme, não dá, não tem roteiro”, mas eles fizeram. Os produtores pensaram: “Vamos colocar uma loira gostosa com cara de suíça e vai dar certo do mesmo jeito”. O John Connor é um viadinho chatinho e não aquele adolescente doidaço envolvido com drogas e venda ilegal de armas que ele deveria ser. O filme só serviu pra ensinar de uma vez que o passado não pode ser mudado pra mudar o futuro. O problema é a que a burra da Skynet ainda não percebeu isso depois de 3 filmes e uma leva de Exterminadores top de linha esbagaçados.

Exterminador 4: É tão ruim que eu tenho que ir por tópicos. A) Por que as máquinas aprisionam humanos? Sadismo? Fetiche sexual? Cadê o conceito de auto-suficiência, minha gente? B) Por que tudo na filial do Norte da Skynet (sim, porque ela se mostrou uma multinacional na verdade, com várias sedes) parece ter sido construído pra seres humanos manusearem facilmente? C) A gente não sente nem cheiro de viagem no tempo o filme inteiro. Mas o Kyle maldito (perceba meu ódio perante esse personagem) ta lá, adolescente e mais novo que o próprio filho. E por último D) O Arnold Schwarzenegger foi feito do mesmo material que o Huck do primeiro filme.
"Pede pra sair, pede pra sair... Tu não é caveira!"

A série O Exterminador do Futuro já tá tão sem noção, que perdeu a graça. Sem falar que uma das poucas lógicas dela é: se tivessem matado o John Connor no primeiro filme, a humanidade estaria salva.

Viajar no tempo é a solução dos seus problemas. A banalização da viagem no tempo também passou para o novo filme da série Jornada nas Estrelas, de novo com esse papo de salvar alguém que está sendo ameaçado. Me admira que o George Lucas não tenha usado essa idéia ainda, porque o cara que produz barulho no vácuo deveria ter usado viagem no tempo até pra cortar as unhas dos seus personagens. Graças a Deus, tirando a ideia de fazer Episódio I, II e III, ele não pensou nisso também.

A melhor proposta na cultura pop a falar de viagens no tempo é a quinta temporada de Lost. Quem acompanha a série e já terminou a última temporada deve ter pensando como eu: “Agora fudeu de vez!”. Mais louca, insana e bizarra que todas as outras temporadas juntas, os perdidos de Lost viajaram no tempo e passaram uns dias brincando de casinha com a Iniciativa Dharma. Para a nossa sorte, existe um físico no grupinho, e ele diz que: não é possível mudar o futuro alterando o passado. Para provar mais ainda essa teoria, o próprio físico começa a achar o contrário, tenta mudar o futuro e péi, morre, sendo que sua morte já era sabida pelo pessoal que está no futuro. Ou seja, o passado é inalterável. Segue uma lógica simples: se você viaja no passado pra matar o seu avô, por consequência você não nasce, e se você não nasce você não pode viajar no tempo pra matar o seu avô. Sacou ou pede ajuda pro Stephen Hawking?

Bem, a 6ª e última temporada de Lost vem aí para o delírio dos fãs, e mais dois Exterminadores do Futuro estão em produção, para o desespero dos fãs. Podemos esperar mais banalização da viagem no tempo, até um dia chegarmos ao ponto de Douglas Adams em sua trilogia de 4 livros: “O maior problema da viagem no tempo não é o perigo de você se tornar o seu próprio pai, famílias modernas podem lidar facilmente com isso, mas a conjugação verbal, porque você descobre que o Pretérito Perfeito não é tão perfeito assim”.