O cinema é a única arte que me faz entrar em desespero constante. Aliás, cinema já foi motivo de ciúmes em algum namoro que não lembro bem o qual (se for o atual é melhor não lembrar mesmo!), pelo motivo de numa crítica a algum filme ter escrito que “Eu só assisto filmes sozinho, nada de companhias, só se for obrigatório. É o filme e eu. Só nós dois. É uma relação de prosa e poesia, ou um rompimento sem volta com cada película. O cinema é meu maior amante.” (meloso, não?)
Enfim, por que foi que eu comecei a falar disso? Lembrei. Porque “eu não estou lá escutando canções de amor” (mais melosidade, calma que isso tem um sentido, eu juro). Existem dois gêneros cinematográficos que Bryanzinho aqui tem nojo desde que se entende por gente e assistiu (e se emocionou) pela primeira vez o Rei Leão no chão do Cine João Paulo (porque o burro aqui na época era um cavalheiro e deu a cadeira em que estava para a prima no cinema lotado), o musical e o biográfico.
Eu moro no Acre. E isso por si só já faz com que uma pessoa que se dedique a cinema tenha vontade de ter alguns enfartes de vez em quando. Meu período anual de crise-suicida-cinéfila acontece a partir do Festival de Cannes. Entre os títulos que quase me fizeram ter orgasmos múltiplos estava o novo filme do Ang Lee e o A Prova de Morte, do Tarantino (sangue, sangue e agora eu dou aquela risada de bruxa maligna), mas Les Chansons d'amour, um filme que é tudo o que eu sempre desprezei, musical, romance e gente muito bonita parecendo sensível, teve uma atenção minha muito especial. Então por que diabos eu gostei desse filme viadinho? Sei lá! Talvez porque seja do Christophe Honoré, diretor do fabuloso Dan Paris, talvez porque tenha um dos meus atores favoritos no meio, o Louis Garrel e talvez porque seja um filme francês (essa paixão exarcebada por cultura francesa ainda vai me lascar legal algum dia).
Mas o que mais me encantou, muito além de todos os outros lançados esse ano, foi I’m Not There, do pouco conhecido Todd Haynes, que é um filme biográfico, sobre ninguém mais, ninguém menos (se você tiver adivinhado de quem pelo título do filme, você ganha um doce), Bob Dylan. Eu nunca escutei uma musica do Bob Dylan, mas a trajetória dele me fascina. Eu nunca assisti um filme do Todd Haynes, mas Velvet Goldmine é um filme que eu espero para assistir há pelo menos 1 ano. Além disso, num filme que mistura histórias verdadeiras e histórias falsas, e tem 6 atores que encarnam um mesmo personagem durante sua trajetória, não ter meu interesse é motivo de que alguma coisa está errada.
Eu sei que minha argumentação sobre o motivo de eu estar tão ansioso (lê-se: desesperado) para assistir I’m Not There e Les Chansons d'amour não está boa. Mas o meu objetivo aqui não é convencer você a assistir esses filmes e sim demonstrar o quanto eu sou apaixonado por cinema. Esse não é um daqueles meus textos loucos sobre muita coisa, é uma carta de amor sobre aquilo que mais me fascina, é sobre o poder de atração que o cinema tem sobre a minha pessoa. E sim, eu devo estar doente, se tiver um psicólogo ai na platéia, eu preciso de ajuda.
O Festival do Rio e a Mostra de São Paulo esse ano me foram convidativas ao limite. A lista de filmes me era quase dolorosa. Saber que alguns desses filmes eu só assistirei daqui a um período de no mínimo 6 meses é angustiante.
Lógico que eu também não poderia deixar de falar da moda de gostar de cinema alternativo. Hoje em dia você deve andar com a revista da Caros Amigos no braço, camiseta do Che Guevara (aquele assassino sanguinário que eu virei fã só depois que descobri que ele é um assassino sanguinário) e quando o assunto é cinema você tem que, obrigatoriamente, falar muito mal do cinema americano, evitar todos os filmes de língua inglesa em qualquer festival e aclamar aquele filme que se passa no Cu-Do-Quistão (tudo que é audio-visual do oriente médio é extremamente cult na moda do momento) falando hergebaico, com legenda em mandarinaico que ninguém viu, quem viu não entendeu, e quem entendeu foi só o diretor e a mãe dele (talvez nem a pobre senhora). Sendo que na verdade você ta louco pra saber o que aconteceu em Lost (falando nisso, puta que pariu, o final da terceira temporada foi bom pra caralho).
Cinema é uma arte muito relativa em gostos. O mundo cinematográfico parece, em muitos momentos, ser aparte do real. Não importa o quanto ele demonstre a realidade, aquela é a realidade do filme mostrada para o mundo, mas nem sempre aquela é a realidade do mundo mostrada pelo filme. Cinema não tem moda, tem um amontoado de idéias, um amontoado de realizações e um amontoado de resultados, diferentes, únicos, iguais, eficientes e inúteis. E claro, o poder de desesperar um ser humano como eu a esperar muito tempo para assistir aquele filme que me encantou sem nem saber o que encontrarei pela frente.