segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Frustrações de Natal e Como Me Tornei Fútil Por Um Momento

Fim do ano. Época de levantar as mãos pro céu, dar graças e agradecer imensamente ao salvador... o décimo terceiro salário. Então, eu tava fazendo cálculos e cálculos sobre o quanto eu receberia de décimo terceiro. E depois de resgatar juros, calcular a CPMF (tomou no cu Lula), alíquotas do banco, taxa do papelzinho do extrato bancário e descontando aqueles vales-troco de papel ridículos de 10 centavos, eu vou ficar com (tã tã tã), 50 reais. To rico.

O Natal é um período que surta com o meu cérebro. Eu viro a pessoa mais consumista do mundo (espírito natalino morreu faz tempo, é época de dar e receber... presentes). Eu quero comprar tanta coisa que até agora não entendo como eu ainda não cai na real e me lembrei que eu não passo de um funcionário público badeko que ganha uma mixaria e que não pode mais pedir dinheiro pra mamãe porque ela acha que agora que eu trabalho eu posso comprar tudo o que eu quero. Eu mal consigo comprar meus passes de ônibus. Família é dose, eles dizem que tão pra tudo que a gente precisar e no fim das contas no primeiro emprego que a gente arranja, eles só não nos chutam pra fora de casa porque ajudamos com as contas (mentira, só pago a internet porque é quase só eu que uso. É, eu gosto de fazer drama).

Enfim, eu já quis de quase de tudo nesse Natal. Comecei com o meu desejo enorme de ter meu notebook fodaço que roda-se Windows Vista e tivesse Wi-fii, pra que em aeroportos internacionais eu me sentisse o cara. Acho tão chic esse povo cool que usa notebook no aeroporto (políticos e homens barrigudos de negócios não contam). Mas, esse é o Desejo-de-Natal-Escorrendo-Pelo-Ralo Nº1. Depois eu quis um Nintendo Wii, pra brincar de Star Wars fingindo que o controle é um sabre de luz e correndo todos os riscos de na empolgação joga-lo na TV e ver a caixinha mágica quebrar e pegar fogo. Mas o bixo acabou no mundo inteiro (é, de primeira eu também não tinha acredito na notícia não). Logo, Desejo-de-Natal-Escorrendo-Pelo-Ralo Nº2. Para ser mais singelo, resolvi pedir um Playstation 2. quando fiz o pedido no café da manhã, sorrindo mais que um retardado, minha avó só pousou a xícara na mesa, me deu um olhar frio e mortal e disse “Um vídeo-game?”, eu suei frio, abaixei a cabeça e fiquei reparando em como o café é amargo. Desejo-de-Natal-Escorrendo-Pelo-Ralo Nº3.

Porém, de todos as pré-frustrações natalinas que ando sofrendo, o Desejo-de-Natal-Escorrendo Pelo-Ralo Nº4 foi a pior de todas. Por vários aspectos, não só porque eu não vou ter o que quero, mas porque por um momento eu me resumi a uma pessoa fútil, mesquinha, estilo Paris Hilton e o pior é que nem me arrependo tanto. Apresento-lhes o Caso do Ligth Blue Boliviano. Eu nunca fui vidrado em perfumes, mas existe um em especial, que além de eu considerar a melhor mistura de essências já feita por um viado, opa, quer dizer, um homem, mexe com meu sistema olfativo e bate no meu cérebro causando um efeito perturbador e bastante “despertante” [ui!].

E Samuelzinho, louco pra ter esse perfume, o que faz? Vai pra outro país. Isso mesmo, fui a Bolívia com a missão de encontrar um Light Blue. Diga-se de passagem, um país que esta quase enfrentando uma guerra civil, onde o povo ta tocando fogo na rua e o presidente ta se coçando pra mandar o exército matar pobre no balde. Depois de duas horas rodando e esperando compras de material eletrônico alheio, eu finalmente pude correr atrás do meu tão sonhado perfume. E qual foi minha grande surpresa quando na primeira loja que entro lá esta ele , lindo, esbelto, preso no vidro e dizendo “Me compre, porque eu te amo”. Me achei tão sortudo. Gritei pelo vendedor, ele apareceu todo com cara de nojo. Perguntei quanto era, ele calculou o preço em dólar e o numero q veio fez meus olhos brilharem, esquecendo a figura depressiva daquele boliviano de chapéu de palha na minha frente. R$115 por um Light Blue de 125ml. No Brasil ele ta R$360 por 100ml.

Sem pensar duas vezes e esquecendo até mesmo de barganhar com o boliviano, saquei a carteira e disse “vou levar”, o boliviano tirou o perfume do vidro e eu disse “cartão internacional em dólar, ok?”. E ele “non”. Eu pasmado disse “como assim patrício?”. Ele com cara de nojinho (embora tenha certeza caro leitor que eu estava com muito mais nojo dele) “Non em dólar, só peso ou real”. Mentalmente eu penso “Tomou no cu, não vou negociar meu cartão numa moeda que eu não sei o valor oficial”. Maliciosamente e querendo vingança eu apontei o Light Blue e em seguida voltei pro vidro “Pode guardar de volta então”. O ódio do olhar dele foi mortal, mas o meu também. Quase dava pra ver os raios se cruzando.Tinha meia hora até todas as lojas da Bolívia fecharem. Mas eu não estava triste, pelo contrário, logo compraria meu Light Blue em outra loja.

Mas não tinha. Em canto nenhum. Em loja nenhuma. Na Bolívia inteira, nada de Light Blue. Eu estava com vontade de gritar, de morrer. Onde estava aquele perfume? Engoli o orgulho e voltei com o rabo entre as pernas para o boliviano maldito. Quando entrei na loja ele me deu um olhar do tipo, “oh não, ele de novo”. Apontei para o Light Blue e disse “Vou levar, cartão, em real”. E ele com um suspiro de entediado “Só em peso”. Eu, voltando ao olhar de ódio, “Real”, e ele com cara de puto, “Peso”. Abri minha carteira. Por um momento achei que uma mosca sairia voando de lá, só havia R$50. Olhei para o boliviano e tive que me segurar para não mandar ele tomar no cu.

Sai em silêncio e deixei o último Light Blue de toda a Bolívia para trás. Se Evo Morales invadisse Cobija com seu exército naquele momento eu apontaria para a loja que estava e dizia “Aqui companheiro, temos um comunista aqui. Mata. Mata esse hijo de una putana”. Porque a história mostra que todo governante ditador mata primeiro os comunistas. Não me levem a mal, mas eu levei horas de carro até outro país, tive que aguentar aquela cidade sem muita higiene, com aquele povo nada bonito (e visivelmente sem muita higiene também), para no fim das contas não levar o que eu queria? O mínimo que eu poderia era desejar ele morto, enterrado e com a loja falindo.

Enfim, meu Natal já começou mal. Já não basta que ele não vai ser grande coisa mesmo. To revoltado. Acho que vou gastar minha fortuna de décimo terceiro em doses de Blue Label. Hum, pensando bem, com 50 pilas, eu posso comprar ¾ de uma dose de Blue Label. Acho que não rola. Vamos beber cerveja, que o efeito é quase o mesmo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Fusca É Nada, Imagem É Tudo E Até A “Inveja Saudável” É Uma Merda

Hoje aconteceu uma coisa que mexeu com meus sentimentos. Durante todo o evento que teve tal poder, eu me senti excitado, maravilhado, bestificado, fascinado e mais algum “ado” que eu não estou bem lembrado. Que evento foi esse então? Eu andei de Fusca. E não foi um simples Fusca, foi "O Fusca". A pintura original estava mais desgastada e incriquilhada que a pele da Dercy Gonçalvez, a embreagem e o acelerador estavam alinhados por duas linhas de barbante, a porta do carona não abria por fora e tremia mais que uma pessoa gorda quando goza (reza a lenda que gordo não tem orgamos, tem ataque epilético), o estofamento estava sujo de barro, rasgado e, no geral, por dentro ele mais parecia que tinha entrado em chamas ao ter sido um carro um dia. Ou seja, eu amei.

Lembro-me que o primeiro carro aqui de casa, nos tempos das vacas anoréxicas, foi um fusca. Branco e com aquele cheiro que só os fuscas tem. PAUSE: Porque todo fusca tem o mesmo cheiro hein? No começo eu achava que todos eram fedidos, mas depois eu percebi que existe algo como a “maldição do cheiro do fusca”, algo que está na alma do bichinho (ou no suor de quem senta sem camisa e o líquido salgado humano infesta aquele estofamento de 1ª linha). DES-PAUSE: Era uma aventura sair de casa naquela época pelo fato de que no princípio dos anos 90, minha residência era ocupada por [PAUSE: contando nos dedos] 9 pessoas.

E ai você e eu nos perguntamos, cabiam nove pessoas em um fusca? Claro que não. Mas cabiam sete com folga. E antes de eu e meu irmão desembestarmos a crescer descontroladamente, se empurrasse um pouquinho pro lado, caberiam 8. Exato, nós tínhamos mais que um fusca, nós tínhamos um Fusca de Circo. Dirigi ele quando criança e aprendi o pouco de mecânica de carro que sei hoje, ou seja, nada.

Hoje eu senti um prazer infantil ao andar de fusca. As pessoas geralmente tem nojo, mas quando estão num carrão se sentem esnobes e poderosas mesmo que o carro não seja delas. Eu não, quis deixar metade do meu corpo do lado de fora da janela e gritar pra todo mundo na rua “Ei, olha pra mim, eu to andando de fusca, cara. Iraaado”. Lógico, não fiz isso, pois além de gerar uma multa para meu colega, eu acabaria sendo comparado a cena de Priscila - a Rainha do Deserto por todos os idiotas/insensíveis que pensam que imagem é tudo e que para fazer parte do mesmo sistema que destrói suas vidas e as torna infelizes e vazias, são capazes de ostentar até o que não possuem.

Esse negócio de imagem me lembrou que sexta feira entrei na maior crise da minha vida com relação a minha imagem. Nos últimos meses meu espírito consumista e de “pessoa mais influenciável do mundo” aflorou e eu gastei uma bela grana em roupas, produto pra cara e pro cabelo. Pra que? Pra no fim das contas eu ter chegado ao cúmulo de na sexta feira ter me achado o cara mais desagradável do mundo, ter tido vontade de cortar a minha face com uma navalha e me isolar do universo num abrigo nuclear pra que ninguém me visse. Sai de casa a contragosto, mas eu só gastei sua gasolina e nem sai do carro. Se eu pudesse ter usado burca nesse dia eu tinha usado.

Passado o dia negro, eu tenho que admitir que não me curei dessa Crise do Patinho Feio totalmente(é, to com a esperança de virar cisne), mesmo porque, a colega veio me dizer que eu pareço com o Sementinha do Mal, do Tropa de Elite. Ela disse que ele é fofo que nem eu, mas eu me perguntei-me a mim mesmo, “se ele é bandido, marginal favelado e galeroso, cadê exatamente a parte fofa disso?”. Anda não assisti Tropa de Elite, mas depois dessa, nem quero mais.

Para me distrair desse Sofrimento-Anti-Narciso, os livros novos que eu comprei chegaram, um deles é Mastigando Humanos, do Santiago Nazarian. Eu acho que eu o comprei só pra quando terminar de ler dizer que não gostei. Por quê? Acho que eu tenho inveja do autor. Ele tem 30 anos, quatro livros publicados, é tradutor de livros (mew, ele traduziu Maldito Coração), escreve legendas para filmes, conhece uma parte cool e underground do mundo, escreve para a Rolling Stones e... ah, vá pra porra, to fazendo propaganda dele de graça.

Acompanho o blog do Nazarian faz alguns meses. De certo modo, eu sempre almejei de um dia ser algo parecido com o que ele é, talvez porque meu maior sonho seja me tornar um conhecido escritor de contra-cultura. Isso volta a me questionar-me a mim mesmo (gosto de dar ênfase) sobre a imagem que tentamos passar de nós para o mundo. Por mais que algumas pessoas tenham noção de que a imagem é um conceito muito hipócrita na sociedade atual, não dá pra deixar de pensar que até mesmo essas pessoas almejam ser algo um dia, formar uma imagem sua para passar para outros.

Eu posso até querer que um dia eu tenha uma força de imagem parecida com a do Santiago Nazarian, mas eu vou comprar um jipe pra mim, porque eu adoro aquele modelo mais velho, aberto e vermelho. E quando alguém me oferecer uma carona num fusca caindo aos pedaços, pode ter certeza que eu só vou recusar se tiver um bom motivo.